Brasil e o caos da mobilidade
Nesta semana que se conclui o Brasil passou várias dificuldades e transtornos que basicamente foram gerados pela paralisação da “simples” classe dos motoristas. Devido ao aumento exacerbado dos combustíveis nas últimas semanas que antecederam o mês de maio, causado principalmente pela subida do barril de petróleo e consequentemente da subida do dólar frente ao real (moeda brasileira). Tais movimentos foram culminados pela saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão e do aumento da taxa de juros básica americana, do qual remeteram respostas mais conservadoras ao mercado e repercutiu de tal forma no Brasil. Dessa forma, as consequências geradas por essa subida dos preços foram a decisão de paralisar os camiões em praticamente todas as rodovias nacionais, gerando um caos em praticamente todos os setores brasileiros.
A partir disso, é importante analisar os motivos de adesão a tal “paralisação” e o quanto esses motivos afetam as pessoas que fazem parte de todo esse processo logístico do transporte brasileiro. No Brasil, a grande parte da carga tributária é incidida no consumo, sendo parte dela transferida aos Estados, Municípios e a União. Sendo assim, cerca de 45% ou mais do valor pago pelos combustíveis na bomba de gasolina vão para diferentes órgãos estatais e acabam convertendo o preço real, a exemplo disto é o que foi citado na Rede Jovem Pan no dia 24/05/18 pelos seus jornalistas, onde uma pesquisa realizada mostra que o preço de R$4,19 da gasolina em São Paulo era distribuído da seguinte forma:
Entidades | Valor de Venda | Percentagem |
Petrobras | R$2,03 litro | 48,45% |
Distribuidora | R$1,91 litro | 45,58% |
Lucro | R$0,25 litro | 5,97% |
Acumulado | R$4,19 litro |
Com isto é notório que a gigantesca carga tributária que incide sobre as distribuidoras acaba por distorcer o mercado e levar o preço dos combustíveis em geral para um patamar muito acima do que se diria aceitável para um país com grandes reservas petrolíferas. Necessário salientar também que existem outros motivos relevantes que estão a ser cobrados, como a isenção em portagens e a melhoria das estradas, que de certa forma é um pouco contraditório e leva a pensar onde o governo vai encontrar no seu orçamento os valores necessários para cobrir as duas políticas equivalentes.
Visto toda essa movimentação, a população brasileira reagiu de uma forma muito rápida e que trouxe grandes consequências na economia produtiva dos últimos dias, já que boa parte do escoamento da produção nacional é feita pelos motoristas e que isso levou a cabo uma grande parte do stock que existia. Sendo assim, notou-se uma grande corrida aos postos de gasolina em todo o Brasil, na qual gerou um grande caos em várias regiões metropolitanas e em praticamente todas as cidades mais do interior, além de alguns movimentos de maior intensidade nos supermercados e em outros estabelecimentos. Por causa disto, houve muitos casos de abuso ao consumidor e que levaram o preço da gasolina a chegar à casa dos dois dígitos em alguns locais, como pode ser visto na imagem abaixo.
Além disto, as consequências desta paralisação foram vistas em outros locais, como a exemplo do que citei acima. A rede francesa de supermercados Carrefour limitou a venda a 5 artigos por indivíduo, visando um maior controle do seu inventário e tentando encontrar a melhor solução para o problema de escassez que enfrentou, medidas que podem chegar ao extremo nos próximos dias.
Apesar de todo esse transtorno causado, a resposta do governo veio muito tarde, levantando a discussão entre os seus ministros e em conjunto com propostas levadas ao congresso, está a debater-se a procura de uma solução que consiga reduzir tais impostos ou que consiga “disfarçar” esse aumento do preço dos combustíveis. A partir disto, é aí que entra a discussão de boa parte dos brasileiros, qual é a melhor forma que possa contornar esse aumento, visto que o país enfrenta uma grave crise fiscal e precisa de conter os seus deficits públicos. Dessa maneira, debatem a melhor forma para baixar os preços e aumentar a popularidade, já que o ano de 2018 é de eleição e boa parte dos políticos que estão no governo atual vão em busca da sua reeleição.
Portanto, fica-se a seguinte questão: será que a paralisação vai ser importante para a redução dos impostos no combustível ou será apenas mais um movimento nacional que refletiu em políticas de curto prazo, já que o barril do petróleo deve voltar aos seus patamares “normais”, o que consequentemente se vai refletir nos preços. A dúvida permanece na cabeça de cada brasileiro e serve de lição para podermos analisar as futuras propostas políticas que serão apresentadas no período eleitoral e perceber quais delas são mais reais e condizem com o cenário político nacional.
Adaptado do português brasileiro para o português europeu
George Neves