A Rússia de Vladimir Putin

Quando questionado sobre “Quem é, para ti, um líder?” numa das fases de recrutamento de novos membros desta organização, um dos candidatos deu uma resposta que me surpreendeu pessoalmente, respondeu: “Putin”. Quero, desde já, deixar claro que qualquer julgamento à resposta “Putin” é completamente inútil e contraproducente para a discussão que aqui pretendo criar.

Logo a seguir justificou a sua resposta, e é essa mesma justificação que me motiva a escrever sobre este tema, o argumento foi algo do género: independentemente da conotação positiva ou negativa que atribuímos à Rússia, o país tem um papel muito importante e necessário na política mundial. Esta resposta dá que pensar…

Ora, a Rússia é um país com cerca de cento e quarenta milhões de habitantes e é o país com maior área do planeta (aproximadamente dezassete milhões de quilómetros quadrados), peço desculpa pelos “factoides”, mas como estudante universitário que sou, gosto de recorrer esporadicamente à Wikipédia, e pareceu-me uma boa introdução ao tema. Estes números são só por si impressionantes, mas se a esses ainda adicionarmos o facto da Rússia estar em segundo lugar num ranking de poder militar estimado que encontrei aleatoriamente na Internet (https://www.globalfirepower.com/countries-listing.asp), julgo que podemos dizer que a Rússia é um país muito grande, com muitas pessoas e com muitas armas; tudo isto confere ao país uma importância substancial no processo de decision making (sim, inseri a expressão em inglês para que tudo isto aparente ser mais científico e intelectualmente estimulante para os amantes de expressões em inglês que podem facilmente ser traduzidas para português) em contexto internacional.

E, à frente deste enorme país, está o impetuoso Vladimir Putin. O ex-funcionário da KGB foi este mês (março) a «eleições» e viu-se «reeleito» mais uma vez; será o seu quarto mandato à frente do país de leste, o que equivalerá a vinte e quatro anos no topo do poder. Conhecido pela sua incrível capacidade de fazer com que os que o pretendem desafiar desapareçam (ainda antes destes se darem a conhecer) com pequenos «acidentes» e processos judiciais que os coloca numa prisão algures no meio do gelo, Putin é possivelmente o homem mais rico do mundo. O certo é que não há muitos dados sobre a riqueza pessoal do presidente russo, mas há muitas suspeitas, e a divulgação dos «Panama Papers» permitiu associar indiretamente mais de uma centena de milhões de euros a Putin, e isso, em conjunto com todas as outras suspeitas no que toca a inúmeras propriedades e bens de elevadíssimo valor, levou vários entendidos na matéria a colocar a hipótese de que este seria mesmo o homem mais rico do planeta.

A verdade é que Putin conseguiu instaurar alguma ordem numa Rússia que se encontrava um pouco perdida quando este subiu ao poder em 2000, e um líder com esta personalidade à frente de um país destas dimensões em que a conquista de território a outros países é vista com bons olhos, trará sempre preocupações ao resto do mundo devido aos (preparem-se para esta expressão) «flashbacks» que a humanidade ainda tem relativamente ao século passado (sim, ainda não confiamos nos alemães).

E é aí mesmo que, na minha opinião, reside a «necessidade» da existir um país com as características da Rússia liderada por Vladimir Putin: o país é visto desde há muito como o anti-herói, e na minha opinião, o anti-herói perfeito, desde as diferenças ideológicas até ao próprio mistério sobre o que se passa dentro do país (muitas vezes me questiono se os próprios nativos sabem o que se passa na Rússia).

Num mundo em que os EUA (ou USA para alguns de vós, é como preferirem) são vistos como sinónimo de liberdade, progresso, abertura e de liderança no que toca à política mundial (ou pelo menos eram, até às últimas eleições americanas, mas isso seria tema para todo um outro artigo de opinião), onde a Europa está constantemente em reconstrução (reconstrução pós-guerra, reconstrução pós-recessão, etc…), a China aproveita inteligentemente as falhas dos outros países para se afirmar como potência mundial e membro importante no processo de (novamente) decision making em contexto internacional, e onde a Coreia do Norte é simplesmente a Coreia do Norte, a presença de um país como a Rússia serve para manter em xeque (sim, escreve-se xeque) o tal país líder do mundo, expoente da liberdade e do progresso; a sua existência é útil para evitar uma maior monopolização (ou «oligopolização») do poder e da influência na nossa sociedade cada vez mais global.

Os russos servem constantemente de bode expiatório nas mais extremas teorias da conspiração, mas é certamente culpado por vários crimes internacionais: a lista de acusações vai desde a morte dos ex-espiões russos no Reino Unido e da manipulação das recentes eleições americanas até às operações militares em território ucraniano e corrupção de governos estrangeiros.

Certamente que outros países (como os EUA) também são autores de operações e atividades semelhantes, mas a sua divulgação não atinge as proporções que atinge nos casos em que a Rússia está envolvida (ou supostamente envolvida); mas é por isso mesmo que acabo por concordar com o citado inicialmente, a Rússia de Vladimir é muito importante na política mundial, mas acima de tudo, parece-me necessária.

Bruno Daniel Nunes