Conforme os dias vão passando, novas ideias são trazidas para cima da mesa pelos representantes dos diversos partidos políticos candidatos à Assembleia da República. Desta vez, tivemos IL, Livre, BE, PAN, PS, Chega e CDU em 5 debates transmitidos pelos diversos canais televisivos.
IL vs. Livre
O frente a frente entre “os dois Ruis” ficou marcado por enormes divergências entre os dois partidos, nas diversas temáticas abordadas. Dos impostos à saúde e habitação, passando até mesmo pela semana de quatro dias de trabalho, tempo não faltou para mostrarem, sobretudo, ao seu eleitorado jovem, aquilo que distingue os dois partidos.
A mensagem da IL, relativamente a impostos é clara: é necessário aliviar a carga fiscal sobre as pessoas singulares e empresas. Propõe mesmo que se fixe uma taxa base de 12% em IRC, acusando o Livre de querer “mais do mesmo”.
“A ambição do Livre parece ser viabilizar Orçamentos do PS” – Rui Rocha
Já Rui Tavares, porta-voz do Livre, no que toca à saúde, não defende a renovação das PPP (Parcerias Público-Privadas), apoia o financiamento adequado ao SNS, que diz “estar a lutar com uma venda nos olhos e mão atada atrás das costas”. Alerta ainda para o perigo de uma “concorrência desleal” entre o setor público e privado.
“Os privados sabem tudo sobre o SNS e significa que é fácil fazer concorrência desleal com o público, que não sabe nada sobre o privado” – Rui Tavares
Houve também divergências na habitação, pois o Livre acredita que se deve alcançar, pelo menos, 10% de habitação pública no país, referindo que esta ideia “funciona em cidades como Viena”.
Já Rui Rocha, na qualidade de porta-voz da IL, defende antes uma maior aceleração no licenciamento e redução do IVA na habitação.
BE vs. Livre
Esta segunda ronda de debates, tanto para Mariana Mortágua, porta-voz do Bloco de Esquerda, como para Rui Tavares, porta-voz do Livre, foi um frente a frente entre partidos de esquerda, que parecem divergir apenas num tema: habitação.
Rui Tavares defende uma sobretaxa sobre IMT nos prédios de luxo, de modo a constituir-se um fundo de emergência na habitação, mas Mariana Mortágua garante que “não resolve o problema”.
“Não só esta taxa não resolve o problema do acesso do multimilionário ao mercado de luxo, como cria um incentivo perverso entre os municípios que têm casas mais caras e mais receita de IMT” – Mariana Mortágua
Por sua vez, o BE defende mesmo a proibição da venda de casas no centro da cidade a não residentes.
O restante debate foi de concordância em tópicos como a semana de 4 dias de trabalho, realce à necessidade de apoio à Ucrânia, erradicação da pobreza, investigação, educação e clima.
Perante a grande convergência do debate e momentos de cumplicidade (expressos através de ironia pelo facto de Montenegro, líder da AD, se recusar a debater com o Livre e a CDU, partido e coligação de esquerda), a líder bloquista admitiu mesmo que “o Bloco e o Livre têm objetivos comuns” e querem “uma maioria que vire a página”, ideia corroborada pelo porta-voz do Livre.
“Seria insuficiente e mau se os partidos da esquerda só estivessem a disputar eleitorado uns aos outros. Toda a esquerda precisa de crescer” – Rui Tavares
IL vs. PAN
Mais um debate de Rui Rocha, da IL, desta vez contra Inês Sousa Real, porta-voz do PAN. Temos temas como habitação, jovens, economia verde e salários a dominarem o debate.
A IL veio para o debate, propondo que se alcance um salário médio de 1.500 euros e que se garanta “salários para o jovens, casa para os jovens, condições para educarem os filhos e saúde”.
Já o PAN acredita que o país não pode continuar a viver de “mínimos olímpicos”, defendendo um salário mínimo de 1.100 euros. Rui Rocha diz mesmo que o PAN “é o braço direito do PS“, referindo-se aos vários orçamentos de Estado do PS, aprovados pelo PAN. Inês Sousa Real “responde na mesma medida” e deixa críticas à IL.
“No país da IL, o bilhete para o parque de diversões não está ao acesso de todos. Por isso é que é importante o Estado Social, que o liberalismo põe em causa” – Inês Sousa Real
Na saúde, Rui Rocha recupera a promessa de médico de família para as crianças de até 9 anos e garante que “se o SNS não tem essa capacidade, resolve-se com privados”.
Nas questões ambientais, Inês Sousa Real diz que é preciso investir cada cêntimo na economia verde e questiona Rui Rocha acerca das posições do seu partido em relação ao ambiente e clima.
“Se estivermos a falar de trazermos progresso, estaremos disponíveis. Essa discussão deve ser tida no sentido de trazer crescimento económico e sustentabilidade. Acabamos de anunciar o nosso manifesto para o crescimento sustentável, baseado na tecnologia e inovação” – Rui Rocha
PS vs. Livre
Pedro Nuno Santos, o secretário-geral do PS, viu-se frente a frente num debate com o porta-voz do Livre, Rui Tavares. Entre partidos de esquerda, o voto útil foi um tema predominante.
Pedro Nuno Santos promete, em questões de educação, “fazer justiça à carreira dos professores”. Já na saúde, diz mesmo que “nestas eleições, discute-se o futuro do SNS“, atacando a direita de não se importar com o Serviço Nacional de Saúde.
Na habitação, realça, sobretudo, as medidas adotadas em anteriores governos do Partido Socialista, prometendo continuar um “trabalho inacabado”, pois “a legislatura foi interrompida”.
O Livre defende que antigos edifícios públicos que estejam desocupados, como ex-quartéis e ex-hospitais, sejam reestruturados para garantir habitação aos estudantes.
“O Governo acordou para a crise quando ainda estava a falar do problema e agora fala da crise quando já temos uma emergência” – Rui Tavares
Realçou também que é necessário que se invista em saúde mental e medicina dentária no SNS. Já na educação, acusa o PS de ter permitido que Portugal se tornasse num dos países que menos investe em educação em toda a OCDE.
Houve também apelos ao voto útil dos dois lados da mesa, tendo Pedro Nuno Santos admitido que “o risco da AD ganhar é real”. Já Rui Tavares realçou o trabalho de colaboração entre o Livre e o Governo na implementação do Passe Ferroviário Nacional.
“Tenho uma boa relação com o Livre, estas eleições são mais disputadas, e estas medidas só continuam se o PS derrotar a AD, se a AD ganhar nenhuma das medidas que falaste eram viabilizadas” – Pedro Nuno Santos
Chega vs. CDU
O último debate de dia 9 de fevereiro, transmitido na CNN Portugal, foi entre André Ventura, líder do Chega e Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP e líder da coligação CDU.
Foi um debate intenso de lado a lado, com trocas de acusações por ambas as partes. A CDU acusa André Ventura que “ficar feliz com as medidas adotadas pelo PSD no tempo da troika”
Por sua vez, o Chega acusa Paulo Raimundo de “cegueira ideológica”, pois vê as privatizações como a fonte da corrupção. Acusa também a CDU de querer sair do Euro e da NATO.
“Durante os tempos sombrios da Troika, André Ventura estava a aplaudir” – Paulo Raimundo
André Ventura acusa Paulo Raimundo de querer combater a corrupção, mas não acompanhar nenhuma medida do Chega nesse sentido. O secretário-geral comunista afirma e acrescenta: “Orgulho-me disso”.
A CDU quer o “aumento de pensões já” e acusa a direita de estar “a empurrar jovens para fora do país”.
Por sua vez, o Chega quer aumento das penas para corrupção, o controlo da imigração e isenção de IRS para jovens até perfazerem 100.000 euros de rendimentos.
Na habitação, Paulo Raimundo quer 50.000 novas habitações públicas durante a legislatura. André Ventura, defensor do fim do IMT, acusa ainda o PCP, partido da coligação CDU, de querer manter este imposto, mas não gostar de o pagar.
“PCP é o partido com mais património imobiliário” – André Ventura