Numa série de debates políticos entre líderes partidários do PSD, PAN, Bloco de Esquerda, CDU e Chega, as diferenças ideológicas e estratégicas ficaram evidentes, desde a rejeição de entendimentos políticos até às discordâncias sobre políticas sociais e internacionais.
AD vs CDU
O debate entre os candidatos da CDU e da Aliança Democrática, transmitido pela RTP, destacou-se não apenas pelas diferenças ideológicas e propostas políticas, mas também por questões geográficas e estratégicas.
Paulo Raimundo, representante da CDU, criticou firmemente a possibilidade de um governo da Aliança Democrática sem maioria, rejeitando categoricamente qualquer forma de apoio nesse cenário.
“Seria uma hipocrisia (…) dizer que alguma vez a CDU apoiaria um programa e um Governo da AD” – Paulo Raimundo
Raimundo explicou que os objetivos da CDU são opostos aos da Aliança Democrática, e portanto, não apoiariam um governo AD que vencesse sem maioria.
Quando questionado sobre a possibilidade de cooperação com o Partido Socialista, Raimundo foi cauteloso, afirmando que a CDU não é responsável pela instabilidade governativa.
“Não é pela CDU que há instabilidade governativa” – Paulo Raimundo
Enquanto isso, Luís Montenegro, participando remotamente do Porto por videoconferência, adotou uma postura de confiança em seu partido,
“Serei primeiro-ministro se for escolhido pelos portugueses e ganhar as eleições” – Luís Montenegro
A questão do envolvimento do Chega nos Açores também foi abordada, com Montenegro afirmando que é necessário esclarecer as posições do partido. “O Chega terá agora o chamado teste do algodão”, sugerindo que o partido terá que decidir entre aliar-se ao PS ou respeitar a vontade dos eleitores açorianos.
Quanto aos aumentos de pensões, Raimundo criticou a Aliança Democrática por não se reconciliar com os pensionistas, enquanto Montenegro defendeu sua proposta de garantir um rendimento mínimo para os idosos. Raimundo afirmou que a “reconciliação com os idosos e com os reformados é uma palavra que vale a pena puxar agora”.
Por outro lado, Montenegro diz que para o futuro quer “garantir a todos os pensionistas que todos os anos terão um aumento das suas pensões”.
O debate também abordou o tema dos salários, com Raimundo defendendo um aumento de 15% e Montenegro propondo alcançar um salário médio de 1.700 euros até o final da legislatura.
“É para fazer agora. (…) E não vale a pena vir com o choradinho de que não há dinheiro. Isso já não cola” – Paulo Raimundo
Montenegro argumentou e contrapôs: “Para subir os salários em Portugal é preciso desbloquear os constrangimentos que têm impedido que haja maior criação de riqueza e maior crescimento da economia”.
O debate, que inicialmente gerou controvérsia devido à substituição de Nuno Melo pela participação de Montenegro, foi concluído com ambos os candidatos apresentando e defendendo suas propostas políticas, apesar das dificuldades logísticas e da distância geográfica.
PS vs PAN
O confronto entre Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, e Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, começou com uma discussão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O PAN propôs o estatuto de profissão de risco e desgaste rápido para médicos e enfermeiros, enfatizando a importância da prevenção.
Pedro Nuno Santos destacou o trabalho em curso na valorização das carreiras no SNS e a abertura para novos acordos com os profissionais de saúde. “Há muito trabalho a fazer”, reconheceu.
A conversa passou também pela redução do IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas), com o PAN a propor uma redução de 17%. “A nossa proposta tem um teto máximo que não abrange as grandes empresas”, explicou Inês de Sousa Real.
Pedro Nuno Santos argumentou que a redução proposta pela direita teria um impacto limitado: “A redução das tributações autónomas nas despesas em viaturas propostas pelo PS é uma redução do IRC transversal”.
A questão do ambiente também esteve em destaque, especialmente com a discussão em torno da exploração do lítio e do projeto do data center em Sines. O PAN enfatizou a necessidade de transparência e a recomendação que poderia ter evitado problemas. “Não podemos estar sistematicamente no pára-arranca”, defendeu Inês de Sousa Real.
Pedro Nuno Santos defendeu uma exploração sustentável do lítio, afirmando que se deve “conseguir explorar o lítio respeitando o ambiente”.
O debate abordou também o tema das Infraestruturas, com a discussão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Pedro Nuno Santos defendeu Alcochete, enquanto Inês de Sousa Real preferia Beja.
No final, ambos os líderes expressaram abertura para possíveis entendimentos após as eleições, dependendo da configuração parlamentar resultante do escrutínio.
AD vs PAN
As acusações do PAN à AD de desvalorizar os direitos das mulheres aqueceram este domingo o debate entre os dois líderes, com Inês Sousa Real a criticar Luís Montenegro por aceitar na coligação “alguém que ache legítimo bater numa mulher”.
Montenegro disse que PAN está próximo do PS. Inês de Sousa Real diz que votar nos socialistas ou no PSD é igual
O debate entre o presidente do PSD e a porta-voz do PAN, que foi transmitido pela SIC, foi muito mais sobre o passado do que sobre o futuro. Inês de Sousa Real acusou o PSD de se ter juntado a um partido que defende a violência doméstica contra as mulheres, depois de polémicas declarações do atual presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, no programa Você na TV, em 2017.
“A AD traga para o século XXI valores do século passado, alguém que ache legítimo bater numa mulher, o PAN só pode distanciar-se de um sinal muito negativo”, afirmou Inês Sousa Real
A deputada afirmou que o parceiro de coligação de Luís Montenegro “acha legítimo bater numa mulher”. E estava dada a pedra de toque, mesmo que Luís Montenegro tenha assumido que não se revia nas declarações de Gonçalo da Câmara Pereira.
“Não me revejo, lamento que essas declarações tenham sido proferidas e estou convencido que o próprio está arrependido“, disse Luís Montenegro, considerando “abusivo transportar para a AD” qualquer complacência sobre este tema
Montenegro sublinhou que há uma desigualdade entre mulheres e homens e lembrou dados que indicam um prejuízo da igualdade entre os dois sexos, defendendo propostas da AD que garantem essa igualdade, nomeadamente o acesso gratuito à creche e ao pré-escolar.
Estava marcado o tom que não mais saiu de cena. Foi assim com esta questão, como com as corridas de touros. O PAN entende que os parceiros do PSD defendem a tortura animal nas arenas, mas também acenou com a bandeira daquilo a que chamou “chacina” de animais, referindo-se à polémica caçada da Torre Bela, onde, em 2020, centenas de animais foram mortos.
“Já reconhecemos que a Aliança Democrática não faz sequer um exercício do século XXI ao trazer como aliados Gonçalo da Câmara Pereira e Nuno Melo”, disse Inês Sousa Real, realçando que o fim dos apoios públicos a touradas ser uma prioridade
Montenegro foi repetindo que a adversária falava de “coisas que não existem”, que descontextualizava acontecimentos do passado, falando mesmo numa “ladainha que não corresponde à verdade“.
Foi aí que o presidente do PSD também quis recorrer ao passado. Foi lá bem atrás, à década de 1980, para dizer que a história dos dois partidos, mesmo em termos de ecologia e bem-estar animal, não é comparável.
BE vs CDU
Questões de costumes e visões internacionais dividem o debate entre Bloco de Esquerda (BE) e a Coligação Democrática Unitária (CDU). Unidos na perspetiva nacional, foi preciso chegar à questão internacional para ver algum despique no debate entre o Bloco de Esquerda e CDU, transmitido pela SIC Notícias. Ambos entendem que é necessário aumentar a votação de 2022 para impedir o PS de ter uma maioria absoluta, mas a visão sobre a guerra na Ucrânia e o envolvimento do Ocidente ameaçou o entendimento.
Paulo Raimundo, da CDU, afirmou que a solução de 2015 é a mais próxima da ideal, sugerindo que o único voto útil é na CDU, porque “obrigará o PS a cumprir todas as promessas que está a fazer agora“.
“O que temos que fazer é constituir uma maioria parlamentar que obrigue o PS a vir e a cumprir”, disse Raimundo, enfatizando que “tudo o que for feito de positivo terá o contributo da CDU”
Por outro lado, Mariana Mortágua, do BE, lembrou que o PS respondeu com um não ao desígnio de um acordo escrito para estas eleições. “Sabemos como é possível subir o salário médio em Portugal”, disse Mortágua, pedindo o fim da precariedade e a regulação dos contratos de trabalho, antes de afirmar que o silêncio do PS fala por si.
Paulo Raimundo alertou para as semelhanças entre PS e PSD, especialmente em questões como os interesses dos grupos económicos e a legislação laboral. “O PSD nunca faltou à chamada e o PS de facto roubou-lhe as bandeiras”, disse o líder comunista, criticando a postura dos dois grandes partidos.
Um clima de união foi rompido por dois temas: primeiro a eutanásia, onde Mortágua lembrou as posições divergentes dos dois partidos.
“Na questão da eutanásia, existe uma divergência clara entre nós e o PCP. Nós defendemos o direito à morte assistida, enquanto o PCP tem uma posição contrária“, destacou Mortágua
Na questão internacional, divergiram especialmente sobre a guerra na Ucrânia e na questão da segurança europeia. Enquanto Raimundo sugeriu que a guerra na Ucrânia envolve cinco atores, incluindo EUA, UE e NATO, Mortágua defendeu uma defesa europeia independente da Aliança Atlântica e afirmou que uma negociação de paz deve incluir a autodeterminação da Ucrânia.
Também na crítica a regimes autoritários, Mariana Mortágua marcou posição, destacando a dificuldade da CDU em criticar regimes como o chinês ou o angolano.
“A nossa preocupação com os direitos humanos e a democracia é clara. Infelizmente, vemos uma relutância da CDU em criticar regimes autoritários como o chinês ou o angolano“
CHEGA vs AD
Luís Montenegro e André Ventura discordam sobre possíveis entendimentos políticos e direção do país.
No primeiro frente a frente entre Luís Montenegro e André Ventura, transmitido pela RTP, o líder social-democrata assegurou que não fará qualquer entendimento com o Chega por uma questão de “decência política“.
“A linguagem [de André Ventura] não se compadece, muitas vezes, com os princípios dos social-democratas“, afirmou Montenegro, recusando qualquer aliança com um partido que considera ter políticas xenófobas e racistas
Por sua vez, André Ventura acusou Montenegro de ser “incapaz de tomar uma decisão“, sugerindo que o PSD estaria disposto a fazer acordos com o PS em vez de assumir uma coligação à direita.
“A arrogância política geralmente corre mal. Se acha mesmo que as sondagens lhe dão a si tanta vantagem sobre o Chega, eu reveria as últimas“, alertou Ventura, criticando a postura do líder do PSD
Em relação às forças de segurança, Montenegro criticou a visão do Chega, afirmando que permitir a filiação partidária e o direito à greve colocaria em causa o exercício da autoridade destas instituições.
“A filiação partidária é mesmo uma tentativa de colocar os partidos políticos dentro das esquadras e dos quarteis da GNR. No caso do direito à greve (…), coloca em causa o exercício da autoridade das forças de segurança” – Luís Montenegro
Ventura defendeu a possibilidade de greve para os profissionais das forças de segurança, citando exemplos de países como Bélgica e Suíça, onde as greves são permitidas com restrições.
Sobre o combate à corrupção, Montenegro comprometeu-se a dialogar diretamente com as instituições competentes e a encontrar medidas eficazes para acabar com este problema, enquanto Ventura acusou o PSD de não ter propostas concretas e de copiar medidas do Chega.
Quanto às propostas para os pensionistas, Montenegro destacou a necessidade de medidas realistas e sustentáveis, criticando a proposta do Chega de equiparar todas as pensões mínimas ao salário mínimo.
“André Ventura acusou Montenegro de ter sido ‘líder parlamentar do maior corte de pensões da nossa história’ e de não ter ‘nenhum currículo na defesa das pensões‘”, destacou Montenegro, rejeitando as críticas do líder do Chega