No dia em que foi divulgada a mais recente sondagem da Universidade Católica para a RTP, CDU, PAN, BE, AD, IL e Chega entraram em estúdio para debater as suas ideias para o país.

CDU vs. PAN

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) e líder da Coligação Democrática Unitária (CDU), Paulo Raimundo, e a porta-voz do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), Inês Sousa Real, protagonizaram o terceiro debate para as eleições legislativas de 2024. Neste frente-a-frente discutiram-se diversos temas que têm marcado a atualidade como os protestos dos agricultores, as políticas ambientais, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a regulação do lobbying.

Debate entre Paulo Raimundo e Inês Sousa Real com moderação de João Adelino Faria | Foto: SIC Notícias

Relativamente à questão dos problemas dos agricultores, ambos os candidatos concordaram que as políticas ambientais não são a fonte dos problemas, mas discordaram com a solução.

Para Paulo Raimundo, os problemas dos agricultores devem-se essencialmente ao “sufoco da Política Agrícola Comum” (PAC) e à “ditadura da grande distribuição”, sendo que “não têm a ver com o sufoco das medidas ambientais”.

“A questão com que se confrontam todos os dias é o aumento dos fatores dos custos de produção, dos combustíveis, das rações, por aí fora” – Paulo Raimundo

O líder da CDU acrescentou ainda que 86% da agricultura nacional é de agricultura familiar, micro e pequena produção. Por conseguinte, Paulo Raimundo defendeu que, para responder a esta problemática, o Estado deve assumir “em si um centro de compras”, fazendo depois “uma revenda aos pequenos agricultores”.

Por outro lado, Inês Sousa Real considerou que “não têm sido as propostas de matéria ambiental que têm prejudicado os agricultores”, atribuindo a responsabilidade à PAC, cuja lógica está “completamente subvertida”.

“Basta pensar que todos têm que ter apoio técnico para perceber que os pequenos e médios agricultores não têm o mesmo acesso aos fundos comunitários que têm as grandes empresas que, em particular, promovem a agricultura intensiva e super-intensiva” – Inês Sousa Real

A porta-voz do PAN também culpabilizou o Governo de António Costa ter implementado “políticas cegas”, destacando o exemplo das quotas de acesso à água para regadio na região do Algarve.

Além disto, de modo a promover “uma agricultura de futuro e de sustentabilidade” em Portugal, Inês Sousa Real defendeu um alívio fiscal na aquisição de produtos biológicos e de produtos agrícolas.

“Os apoios têm que se chegar a quem tem melhores práticas e não a quem mais lucra e quem mais polui” – Inês Sousa Real

Quanto à questão da saúde, os candidatos discordaram sobre a falta de médicos e de enfermeiros.

Paulo Raimundo apontou que este problema não existe no país, mas sim no SNS, sendo necessário criar as condições para reter e respeitar os profissionais de saúde.

Do lado do PAN, Inês Sousa Real entendeu que não há um número de médicos e de enfermeiros suficientes no SNS, dando novamente o exemplo do Algarve, onde seriam necessários “500 enfermeiros” para suprir as necessidades. Além disso, a porta-voz do PAN defendeu que o recurso ao setor privado pode ser uma alternativa a curto prazo.

A regulação do lobbying foi o último tema a ser discutido neste debate. Por um lado, a porta-voz do PAN vincou a importância de se avançar com uma lei do lobbying, de modo a “garantir uma maior transparência” no combate à corrupção. Por outro, Paulo Raimundo alertou que a lei não vai alterar “as portas giratórias”, e que o principal foco da corrupção são as privatizações.

AD vs. BE

O confronto político entre Luís Montenegro, presidente do Partido Social Democrata (PSD) e líder da coligação Aliança Democrática (AD), e Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) foi marcado um intenso clima de acusações mútuas e pela discussão de diversos temas mediáticos: habitação, saúde e salários.

Debate entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro com moderação de Sara Pinto | Foto: SIC Notícias

O frente-a-frente começou com o rescaldo das eleições regionais nos Açores.

Mariana Mortágua defendeu que o seu partido continuará a ter um papel fundamental na “oposição ao governo de direita” e reforçou a ideia de que o “BE é a quarta força política nos Açores”. Além disso, a líder bloquista afirmou que a pobreza nos Açores tem vindo a aumentar.

Do outro lado, Luís Montenegro rejeitou a veracidade da afirmação de Mariana Mortágua, acusando-a de estar “completamente desfasada da realidade”.

Sobre a solução governativa para os Açores, o líder da AD posicionou-se ao lado de José Manuel Bolieiro, defendendo que as suas declarações foram inequívocas, “ao dizer ao país e aos açorianos que estava disposto a governar com a maioria governativa”.

Relativamente ao tema da saúde, a coordenadora do BE demarcou-se das ideias da AD, apontando que o BE é o único partido que apresenta soluções exequíveis, ao passo que a AD defende a “despesa”.

Em resposta à acusação de Mariana Mortágua, o presidente do PSD defendeu a necessidade de salvar o SNS e prometeu a apresentação de um programa de emergência na saúde.

“A nossa proposta é nos primeiros 60 dias de governo aprovar um programa de emergência” – Luís Montenegro

O líder social-democrata acusou ainda a líder bloquista de ser “responsável pelo pior desempenho na saúde”. Mariana Mortágua reagiu imediatamente à acusação, defendendo que o “PSD quer entregar a saúde a quem quer burlar a saúde”.

Durante este momento de tensão, Luís Montenegro apontou Mariana Mortágua a “candidata a ministra da Saúde de Pedro Nuno Santos”, afirmando, simultaneamente, que isso não irá acontecer uma vez que o PS não será o vencedor destas eleições. Ainda em resposta, o presidente do PSD referiu que “Mariana Mortágua e o Bloco estão obcecados com o Estado”.

“Não se pode dizer que os hospitais que funcionaram em regime de PPP fizeram tudo bem” – Luís Montenegro

Neste clima de troca de acusações, Mariana Mortágua defendeu que “o grande debate da defesa do SNS foi feito pelo BE”.

“Pode acusar-me do que quiser, mas não pode acusar o BE de não ter defendido o SNS” – Mariana Mortágua

Sobre o problema da habitação, a líder bloquista reiterou que é necessário impor tetos máximos nas rendas, tecendo também duras críticas às taxas de juro. Mariana Mortágua culpabilizou o PSD pelo aumento dos preços da habitação, acusando-o de apresentar “uma política de especulação e a selva no arrendamento”.

Face a esta acusação, Luís Montenegro defendeu é imperativo “atuar sobre a oferta facilitando a vida aos promotores e investidores, com menos burocracia e menos castigo fiscal”. O líder social-democrata não esqueceu os jovens e acrescentou que também é necessário dar-lhes condições de acesso à habitação.

Em tom acusatório, a coordenadora do BE afirmou que, para a AD, o “Estado apenas serve para garantir lucros do privado e da especulação”. Ainda em resposta ao presidente do PSD, Mariana Mortágua rejeitou que o problema da habitação se deva essencialmente à falta de construção e, no âmbito dos Vistos Gold, acusou o PSD de ter viajado até à Rússia para “negociar com a oligarquia de Putin”.

“Não há coisa mais extremista e radical do que uma renda de 1.500 para um T1 em Lisboa” – Mariana Mortágua

Mariana Mortágua aproveitou ainda o seu direito de resposta para acusar Luís Montenegro de ainda não ter apresentado o seu programa eleitoral.

O tema dos salários foi o último a ser discutido neste debate.

Nesta última fase do debate, a coordenadora do BE criticou a proposta da AD que atribui o pagamento de um décimo quinto mês de salários isento de impostos para trabalhadores de cumprem objetivos de produtividade. Além disto, Mariana Mortágua sublinhou uma das propostas do seu programa eleitoral: um maior contributo fiscal de quem ter maiores rendimentos.

“A única forma que o PSD tem de gerir a economia é dar dinheiro público a grandes empresas” – Mariana Mortágua

Na sua resposta final, o presidente do PSD defendeu a redução do IRS e o pagamento pela produtividade, de modo a “dar folga à classe média”.

CHEGA vs. IL

O último debate do dia foi protagonizado entre os dois mais recentes partidos de direita: o Chega, liderado por André Ventura, e a Iniciativa Liberal (IL), presidido por Rui Rocha, que, tal como Paulo Raimundo, se estreia nos debates televisivos. Discutiram-se temas que aproximaram e distanciaram os dois partidos como a fiscalidade, TAP, pensões, imigração e cenários governativos.

Relativamente ao tema da fiscalidade, André Ventura defendeu que, atualmente, o IMI é um “desincentivo ao mercado”, conotando-o como “o imposto mais estúpido do mundo”. Por conseguinte, o líder do Chega defendeu um alívio fiscal gradual e que estão em causa cerca de “sete mil ou oito mil milhões de euros”. Ventura aproveitou ainda o seu tempo para acusar a IL de defender as privatizações e os despedimentos.

Do outro lado, Rui Rocha defendeu “a modernização do Estado”, eficiência e redução do desperdício do Estado”, algo que André Ventura concordou.

Sobre o tema da TAP, o presidente do Chega não clarificou a sua posição relativamente a uma eventual nacionalização da companhia aérea. No entanto, Ventura não pretende que a companhia aérea espanhola Iberia torne Madrid a capital da Península Ibérica.

Ainda que tenham concordado em diversas matérias, Rui Rocha quis também distanciar-se do Chega, comparando André Ventura a Pedro Nuno Santos.

“Às vezes parece que estamos a falar com Pedro Nuno Santos” – Rui Rocha

No que diz respeito ao tema das pensões, o presidente liberal defendeu o “cumprimento da lei” e acusou Ventura de apresentar propostas que iludem os idosos e levariam o país à bancarrota.

Do outro lado, o líder do Chega não esclareceu o modo como irá financiar as medidas apresentadas sobre o aumento das pensões.

Passando para o tema da banca, André Ventura defendeu uma taxa “temporária” sobre os seus lucros e acusou a IL de defender a banca.

“Não estamos aqui a defender a banca, esse é o papel da IL” – André Ventura

Sobre as propostas apresentadas pelo Chega, Rui Rocha afirmou que “o custo para os portugueses dos serviços bancários e gasolineiras fica mais caro”. Numa altura em que o debate se torna cada vez mais aceso, o candidato liberal comparou o seu adversário a “uma criança que está no parque de diversões e quer andar nos carrosséis todos”.

Em resposta, André Ventura defendeu-se com os resultados eleitorais indicados pelas últimas sondagens: “Estamos nos 20%, vocês estão nos 5%”.

Quanto à questão da imigração, o presidente do Chega defendeu o seu controlo, acusando o atual regime imigratório de ser uma “bandalheira”. Além disso, André Ventura também defendeu a deportação de imigrantes que cometam crimes em território nacional.

Para a IL, é necessário promover uma migração com “dignidade e humanismo”, lembrando também a importância dos imigrantes para o funcionamento da economia.

Por fim, discutiu-se a possibilidade de eventuais cenários de governação com a AD. Sobre esta matéria, o presidente do Chega referiu que o seu partido tem condições e exigências, ao contrário da IL.

“A IL está doidinha por se meter na cama com o PSD” – André Ventura

Rui Rocha acusou o Chega de ainda não ter assumido a sua posição sobre um governo minoritário da IL e PSD. Além disso, o líder da IL afastou-se de um acordo de governação com o Chega, garantindo que o seu partido não se entende com partidos “estatistas e socialistas”.

Editado por Inês Silva