No mês de janeiro, a Universidade Católica do Porto revelou um estudo onde podemos ver que cerca de 90% dos jovens, maiores de 18 anos, já tinham votado. Em contraposição, apenas 17,5% têm filiação partidária. Destes indicativos retiram-se várias reflexões, começando desde logo por perceber que o alegado desinteresse dos jovens da nossa sociedade pela vida política não é real, uma vez que 89,6% dos inquiridos alegam já se terem deslocado às urnas nacionais, sendo de notar que foi sobretudo nas eleições legislativas que se verificou um maior rácio – 79,1%. Os termos numéricos fazem explicitar a ausência de indiferença neste ramo, sobretudo no que toca à ida às urnas, mas não é assim em todos os setores. Questão que de facto pode ser levantada tem que ver com a fraca percentagem de jovens com militância política (17,5%) e envolvência em sindicatos (2,4%), que faz interrogar quando comparada com os números anteriores. Assim sendo, podemos questionar a diferença da elevada envolvência nuns âmbitos face aos outros.

Porque é que os jovens não se filiam?

Várias foram as tentativas de resposta a este verdadeiro problema, tanto da parte dos investigadores do estudo como da parte do presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), Rui Oliveira. Facto assente é que os jovens têm uma atividade positiva nas redes sociais, onde manifestam por inúmeras vezes a sua opinião sobre o dia a dia político, na maioria dos casos envolvendo as questões mais controversas e polémicas – ainda assim, não se filiando. Além disso, no que toca à intervenção social, faz-se notar o interesse desta faixa etária por movimentos, manifestações e grupos que defendam os seus principais interesses. Uma tentativa de resposta prende-se com toda a questão e a prática burocrática em volta da política e pelo facto de não se identificarem na íntegra com nenhum espectro partidário, podendo muitas vezes tornar a filiação um tema tabu.

Outra percentagem de elevado relevo tem que ver com a militância partidária ou sindical. Dentro das mesmas, foi possível verificar que a idade mais avançada e a independência financeira são os fatores mais preponderantes que levam a uma participação mais ativa na atividade política, o que pode explicar a desconexão dos jovens, ainda dependentes, na vida partidária. Já o fator principal que leva ao afastamento destas mesmas atividades, de acordo com 84,1% dos inquiridos, é a “falta de conhecimento”, declinando a participação de quem realmente se interessa. Muitos dos jovens afirmam ter medo de cometer um erro ao expressar a sua opinião, já que sentem a pressão de serem criticados e acreditam que as pessoas mais velhas não se mostram à vontade para ouvir as suas opiniões. É também colocada a hipótese de parte da responsabilidade pertencer aos próprios partidos por não se interessarem pela juventude, assumindo que a falta de conhecimento na matéria é culpa deles mesmos, ou por acharem algumas opiniões formuladas por estes inocentes e irreais. Para combater este dado, mais de metade dos jovens (65,4%) apontam para a aposta de novas iniciativas comunitárias, bem como mecanismos de educação política implementados em todas as escolas, como por exemplo o uso da disciplina de cidadania para tal formação.

É também de ressaltar que se confirma uma participação consideravelmente menor das minorias étnicas e religiosas e das mulheres, fator que ainda necessita de ser estudado a fim de ter uma explicação. Neste último caso, verifica-se uma presença notável em organizações mais recentes, como associações ambientais. Quando questionado sobre o porquê da diferença dos resultados pela agência Lusa, o presidente do CNJ acredita no seguinte:

“As organizações mais recentes têm estruturas menos enraizadas culturalmente. Nas outras organizações mais estratificadas – sendo e que são ecos do seu passado – podem ser reflexo de hábitos e formas de estar”.

A participação política menos ativa pode ser explicada pela hipótese de que estas minorias não se mostram reconhecidas no meio político atual, pelo que as resoluções para os problemas que as afetam não parecem efetivas, no seu ponto de vista.

Mais precisamente sobre as mulheres, é importante notar que estas conclusões mostram as dificuldades que as mulheres ainda enfrentam, apesar de já ter existido várias ações para terem a possibilidade de ter uma presença mais ativa nos espaços políticos.

A minoria que não se inclui neste resultado é a comunidade LGBTQI+, já que esta é a comunidade mais ativa, nomeadamente em movimentos sociais. Aqui, verifica-se que este movimento se tem mostrado presente em vários espaços políticos, de forma a promover o fim da opressão de que são alvo.

Como é que os jovens participam na política?

Apesar de não ser a forma mais comum de participação política entre os jovens, verifica-se que os que participam em partidos, são os que mais organizam campanhas e os que se mostram mais ativos nos movimentos sociais e no associativismo. Já nos restantes, a participação política demonstra-se no interesse pelas notícias, em debates com amigos e familiares e na ida às urnas para votar. Em relação a este último tópico, é importante ressaltar que se verifica uma presença substancialmente menor dos jovens na região centro do país e dos votantes que apenas possuem um nível de educação básico.

De acordo com os entrevistados, o género de participação mais presente na geração mais nova é apelidado de sui generis, sendo normalmente desencadeado quando se verifica um maior descontentamento entre os jovens sobre um certo tema. Este consiste num maior número de movimentos sociais e atividades, como assinar petições ou abaixo-assinados. Estas formas de participação são vistas como mais compreensivas, o que conduz a um maior entusiasmo pelas pessoas que fazem parte da ação e dão uma maior autonomia na evolução dos movimentos sociais.  

Quando questionados sobre os temas de maior importância no seu ponto de vista, constatou-se que as maiores preocupações dos jovens denotam-se na saúde (98,9%), na educação (98,4%) e no emprego (98,3%).

Este estudo foi realizado com o público-alvo de portugueses entre os 18 e os 30 anos, tendo sido inquiridas 931 pessoas. Os seus resultados permitiram mostrar a urgência de levar aos jovens questões da ordem do dia que lhes façam suscitar verdadeiro interesse e envolvência política e a necessidade constante de investir na educação política.
Da parte do CNJ ficou a promessa de reunião com os demais partidos com assento parlamentar, com a Comissão de Juventude da UGT com vista à análise e reflexão sobre estes dados e que políticas de aproximação se podem desenvolver. Fica ainda a esperança de que nas próximas eleições, a realizar em 2024 para as Europeias, o nível de envolvimento dos jovens se mantenha alto, uma vez que também se faz denotar a discrepância entre aquilo que são as eleições legislativas face às que dizem respeito à União Europeia.

 

Artigo editado por Hugo dos Santos