Em 2020, nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, Donald Trump saiu derrotado depois de ter somado 46,90% dos votos do eleitorado. Quase 2 anos depois, nas presidenciais do Brasil, Jair Bolsonaro obteve 49,10% de votação e seguiu o mesmo caminho, perdendo para Lula da Silva pela margem mínima.

Enquanto Bolsonaro foi o primeiro presidente a não conseguir a reeleição desde a democratização, Trump foi o primeiro a não conseguir ser reeleito desde 1992, quando o fracasso da economia impediu George H. W. Bush de continuar no poder.

Após terem falhado a reeleição, os dois ex-presidentes assumiram uma postura idêntica: não apresentaram intenções de reconhecer as vitórias dos rivais. São muitas as similaridades que aproximam Trump e Bolsonaro, tal como os próprios fazem questão de demonstrar em público.

Duas nações, dois presidentes unidos e derrotados pela margem mínima

Donald Trump e Jair Bolsonaro falharam a reeleição. Foto: Alan Santos/Presidência Do Brasil/Epa

Nas eleições presidenciais, Trump e Bolsonaro mostraram-se solidários e defenderam as reeleições um do outro, mas foram derrotados pelos seus adversários. Uma história que se escreveu idêntica na jornada eleitoral dos dois ex-presidentes.

Em 2020, ano em que Biden levou a melhor sobre Trump, Bolsonaro declarou apoio ao então presidente, que falhou na tentativa de ser reeleito. Depois de os resultados terem sido apurados, Bolsonaro recusou aceitar o veredito antes da publicação oficial e afirmou que houve fraude nas eleições americanas.

Em 2022, Trump incitou os eleitores brasileiros a depositarem um voto de confiança em Jair Bolsonaro, que considerou “um dos maiores líderes do mundo”. O bilionário republicano elogiou o trabalho que o outrora líder brasileiro tinha desempenhado e afirmou que este estava a “resgatar o país como mais ninguém poderia”.

Vocês estão a ser respeitados em todo o mundo graças ao vosso presidente” – Trump no discurso de apoio a Bolsonaro nas eleições de 2022.

O voto eletrónico e o voto postal

O processo eleitoral decorre de modo distinto nos dois países. No Brasil funciona pelo método do voto eletrónico

Simulação do voto eletrónico na 1.ª volta das eleições brasileiras. Foto: REUTERS/Adriano Machado/File Photo

A estreia do voto eletrónico no Brasil aconteceu em 1996, nas eleições municipais do país. Considerado pioneiro neste sistema de votação, o método do voto eletrónico estendeu-se a todo o país em 2000.

Para o eleitor brasileiro exercer o dever de voto, deve digitar o número atribuído ao candidato que escolher na máquina que contabiliza os votos. Posteriormente, a contagem da totalidade dos votos é feita, também, de forma digital.

Em 2018, mesmo depois de ter vencido as eleições no 2.º turno, Bolsonaro acusou o método de votação adotado de ser fraudulento, sem apresentar quaisquer provas. Como solução para tornar mais transparente o processo de votação, propôs que se imprimissem os boletins de voto e ameaçou não aceitar o resultado das eleições de 2022. Em todas as eleições que decorreram, nunca houve fraude, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nas eleições deste ano, foi introduzida uma nova possibilidade: depois de o eleitor registar o número do candidato que pretendia eleger, tinha tempo extra para conferir a votação e, se necessário, corrigir.

Em 2022, maior parte dos votos vão ser postais. Infografia: Matt Zdun/Reuters

Nos Estados Unidos, os eleitores têm diferentes formas de votar, visto que cada estado define o seu método. Ao longo do tempo, o voto postal tornou-se a forma mais utilizada.

Para votar, basta solicitar o boletim de voto que é enviado para a morada dos eleitores. Posteriormente, o eleitor recebe o boletim e um envelope onde deve selar a folha de voto e enviar à autoridade local do processo eleitoral. Para que o voto seja validado, a autoridade local verifica se o eleitor está registado no Estado em questão e se a morada de onde enviou o voto corresponde àquela que registou. Depois, a mesma entidade processa e conta o voto. O limite temporal do registo do voto é definido por cada Estado e pode variar.

Com a chegada do coronavírus em 2020, o voto postal foi a escolha de 40% dos eleitores, que decidiram depositar os seus votos pelo correio. Este sistema permite exercer o direito de voto sem se permanecer em longas filas de espera. A crescente adesão ao voto por correspondência fez com que a contagem de votos atrasasse, tendo em conta que é feita manualmente.

Ideias que se cruzam

Bolsonaro e Trump numa conferência de imprensa na Casa Branca, em março de 2019. Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

Além do discurso de Trump e Bolsonaro ser semelhante na forma, também o é no conteúdo: ambos são a favor do porte de armas, sendo que uma das medidas propostas por Bolsonaro era ampliar o acesso a armas por parte da população brasileira; defendem Deus, a liberdade e as famílias tradicionais. Também se posicionam contra o aborto, contra a ideologia de género e negam as consequências das alterações climáticas.

Todo o vagabundo está armardo, só falta o cidadão de bem!” – Bolsonaro

A chegada da pandemia serviu, do mesmo modo, para acentuar as perspetivas comuns aos dois líderes políticos, que se mostraram negacionistas. Enquanto o problema se agudizava, os dois relativizaram permanentemente a situação. Jair Bolsonaro disse, a dada altura, estar “a seguir uma linha semelhante à de Trump” no que dizia respeito ao combate à pandemia.

Bolsonaro afirmou que o vírus COVID-19 se tratava de “uma gripezinha“, posicionou-se contra o confinamento e desvalorizou o número de mortes que aumentava de dia para dia. Quando questionado por um jornalista sobre o recorde diário de mortes notificadas naquele dia disse lamentar mas que, embora fosse Messias, “não faz milagres”.

O ex-presidente norte-americano, numa das célebres recomendações que deixou, incentivou a população a injetar desinfetante para “limpar os pulmões”.

Surpreendido com o conselho de Trump, o democrata Joe Biden pediu no Twitter para que ninguém ingerisse desinfetante.

[O vírus] não afeta praticamente ninguém. É impressionante. Só os idosos com doenças cardíacas e outros problemas” –  Donald Trump, 22 de setembro de 2020

E agora, o que está a acontecer?

Com as eleições intercalares dos EUA a decorrer, está em jogo o controlo das duas Câmaras do Congresso, com 435 lugares da Câmara dos Representantes e 35 de 100 lugares do Senado a irem a votos. Mais ainda, os eleitores vão também escolher os governadores de 36 Estados.

Os estados considerados mais importantes são Pensilvânia, Georgia, Nevada, Arizona, Wisconsin e Michigan. Todos têm disputas críticas, que determinarão o controlo do Senado e da Câmara dos Representantes. Os resultados são, para já, incertos mas, desde a turbulência das eleições de 2020, a opinião sobre Biden não é tão favorável e até já se avizinha um possível regresso de Donald Trump. Consideradas um referendo a Joe Biden, as “midterms” são decisivas para a recandidatura de Trump nas presidenciais de 2024.

Quanto a Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto, ex-deputado federal por São Paulo e filiado no Partido Liberal (partido de Bolsonaro), disse estar seguro de que Bolsonaro se vai voltar a candidatar em 2026. “Será o nosso candidato a Presidente a 2026, não tenho dúvida”, garantiu Valdemar.

Editado por Hugo dos Santos