O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discursou por videochamada na Assembleia da República (AR) na passada quinta-feira, dia 21 de abril – foi a primeira vez que um chefe de Estado participou nestes moldes. A intervenção foi marcada por referências ao 25 de Abril, pela descrição do que aconteceu em Bucha e Mariupol e pelo apelo à liberdade e ajuda perante o povo ucraniano. No fim de aproximadamente 15 minutos de discurso, todos os deputados, exceto do Partido Comunista Português (PCP) que não estavam presentes, levantaram-se para uma longa ovação em pé ao presidente ucraniano.
Para além de ser marcado por afirmações como “Lembramo-nos todos das fotografias de Bucha, dos corpos das pessoas espalhados no meio das ruas. Os russos nem tentaram arrumá-los nem os deixaram sepultar”, o discurso também foi marcado pelo dia em que Zelenksy assinala três anos desde que chegou ao poder na Ucrânia, onde consegui uma vitória surpreendente perante Poroshenko.
Depois de ter passado virtualmente por mais de 20 parlamentos, o presidente da Ucrânia seguiu os traços gerais dos discursos que costuma dar: ao mesmo tempo que aborda o seu povo para o assunto não cair no esquecimento, também apela à solidariedade internacional. Esperava-se, então, que o presidente ucraniano fizesse referências a Portugal, o que se veio a confirmar.
“Vocês, que se preparam para celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos, que também vos libertou de uma ditadura, sabem o que estamos a sentir”
Além de recordar o elo de ligação entre os dois países por meio da comunidade ucraniana imigrada em Portugal, Zelensky quis criar imagens para que os portugueses se colocassem na posição dos ucranianos: “Imaginem se toda a população de Portugal fosse obrigada a fugir”. Recordou ainda as revoluções de 2004 e de 2014 na Ucrânia, que fizeram frente a executivos presidenciais que procuravam estreitar relações com a Rússia e mencionou o 25 de Abril: “Vocês, que se preparam para celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos, que também vos libertou de uma ditadura, sabem o que estamos a sentir”. Esta afirmação foi considerada um “insulto ao 25 de Abril” pela líder parlamentar comunista, Paula Santos.
O presidente ucraniano pediu a Portugal para que reforce as sanções contra oligarcas russos, ceda mais armamento, apoie o embargo das importações de petróleo russo e bloqueie a Rússia do sistema bancário internacional. Por fim, reiterou o apelo para que Portugal apoie a entrada da Ucrânia na União Europeia.
As declarações de Zelensky ocorreram por iniciativa do PAN, que propôs às restantes forças políticas com assento parlamentar a formulação de um convite para participar numa sessão na AR. A conferência de líderes aprovou por maioria a proposta, contando apenas com a oposição do PCP. Os comunistas fizeram saber que não iam participar na sessão, por considerar que Zelensky “personifica um poder xenófobo e belicista”.
Como resposta, no debate seguinte à sessão solene com Volodymyr Zelensy, os deputados da Iniciativa Liberal levantaram-se e saíram quando os comunistas tomaram a palavra para intervir.
Esta não foi a primeira vez que o partido comunista tomou uma atitude deste género. Em 1985, o PCP exprimiu o seu protesto contra a presença de Ronald Reagan na Assembleia da República, ao sair da sala enquanto o presidente norte-americano discursava.
Mais recentemente, este tipo de ações de protesto foram, sobretudo, encabeçadas pelo Bloco de Esquerda, aquando da visita de Juan Carlos, Rei de Espanha, ao Parlamento português. Em 2016, a situação repetiu-se, desta vez na presença do filho, o rei Filipe VI. O PCP recusou-se a bater palmas ao discurso do monarca mas os seus deputados levantaram-se no final da sessão, o BE e André Silva, à época deputado único do PAN, permaneceram sentados e também não aplaudiram.