Depois de uma primeira semana de debates intensos entre os vários partidos com assento parlamentar, onde se ficaram a conhecer grande parte das medidas dos candidatos, a segunda semana trouxe pouca novidade. O CDS-Partido Popular e o Bloco de Esquerda aproveitaram os confrontos televisivos com os adversários políticos para aprofundar algumas questões, mas os temas centrais permaneceram os mesmos.
CDS-Partido Popular: a direita que se mantém conservadora
No primeiro debate da semana, contra António Costa, Francisco Rodrigues dos Santos teceu duras críticas ao líder socialista, por ter acabado com os contratos de associação no ensino. Para o líder dos CDS, estes contratos saíam mais baratos ao Estado e permitiam às famílias mais pobres ter o ensino privado como opção. A ideologia de género nas escolas voltou a ser um tema criticado pelo centrista, que defendeu o fim da obrigatoriedade da disciplina de cidadania – as escolas não são “acampamentos do Bloco de Esquerda”, argumentou. Francisco Rodrigues dos Santos trouxe ainda para o debate temas como a atribuição de subsídios a professores deslocados e a necessidade de se criarem incentivos fiscais com o objetivo de aumentar a natalidade.
Frente ao Livre, representado por Rui Tavares, o líder do Partido Popular reiterou a importância da liberdade de escolha na educação, através da criação de um cheque ensino e acusou o Livre de querer o fim da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica – o que diz ser “anti-cristão”. Voltou a defender a diminuição da carga fiscal, através da redução de impostos e diz que o Livre quer “reescrever a história”. “A Joacine saiu do Livre, mas o Livre não sai da Joacine”, rematou o centrista.
No debate com André Ventura, o objetivo de marcar as diferenças entre o seu partido e o Chega foi central na retórica do presidente do CDS. Rodrigues dos Santos começou por mostrar as incoerências de Ventura em matéria de corrupção e acusou-o de ser um “cata-vento”, “a caricatura da direita que interessa à esquerda”. A democracia cristã que norteia os centristas é “patriota”, mas não “nacionalista”, e afasta-se do “racismo”, “xenofobia” e “machismo” do Chega.
O debate com Catarina Martins foi o último da pré-campanha. Privatizações e medidas fiscais foram focos na conversa com a coordenadora do Bloco de Esquerda, que, na visão de Francisco Rodrigues dos Santos, quer uma “fábrica de impostos” e “propõe uma ditadura praticamente comunista” na economia. As posições de ambos os líderes divergiram em todos os assuntos, nomeadamente na proposta de descida do IRC para 15% por parte do CDS, contrariada pelo Bloco, que tem como prioridade baixar os impostos aos trabalhadores.
No encontro entre todos os partidos com representação parlamentar, ficou clara a vontade de convergência à direita e reiterou a vontade de reduzir impostos como o IRC e o IRS. A Saúde e a Educação também foram temas do debate, com a rejeição de “cegueiras ideológicas” quanto à intervenção privada.
Bloco de Esquerda: garantia de estabilidade
O primeiro debate da segunda semana de Catarina Martins foi frente a Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, que acusou o Bloco de ter responsabilidades na crise de instabilidade política que hoje atravessamos e por “estender a passadeira para o crescimento de forças populistas antidemocráticas”. A bloquista defendeu-se com o argumento de o PAN tanto negociar à esquerda como à direita. A questão da emergência climática foi, no entanto, tida como prioritária para ambas as candidatas.
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Com António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, a bloquista recordou, durante o debate, os quatro anos de estabilidade da geringonça e criticou a postura do governo na “negociação” do último orçamento. O Trabalho e a Saúde são prioridades para o Bloco, que propõe o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a reversão de medidas da Troika. O atual primeiro-ministro criticou, ainda, a “bravata ideológica” dos bloquistas em matéria de nacionalizações, mas Catarina Martins defendeu-se, ao dizer que “talvez o PS ache normal que seja o Estado chinês a mandar na energia em Portugal, o BE não acha isso”.
No debate com Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS, as divergências entre os partidos dificultaram a discussão de temas em que ambos tivessem pontos de vista semelhantes. Quase tudo afasta um bloquista de um centrista, desde as prioridades em termos económicos – o Bloco defende o alívio dos impostos sobre o rendimento das Famílias ao invés das empresas – até às questões morais – onde a bloquista foi acusada de “fazer campanha com crianças de 10 anos com t-shirts da cannabis” e ter um “guia Michelin das casas de chuto”.
Para finalizar a participação em debates, no encontro com todos os líderes de partidos com assento no Parlamento, foi evidente a intenção de participar num entendimento à esquerda. As bandeiras do reforço do SNS e da necessidade de acabar com os cortes nas pensões foram, novamente, hasteadas e Catarina Martins voltou a lembrar a vontade de reduzir o IRS e o IVA – nomeadamente na eletricidade.