Depois de uma primeira semana de debates, António Costa, o secretário-geral do Partido Socialista, começou a semana a debater com o Bloco de Esquerda (BE), de Catarina Martins, e terminou com a Iniciativa Liberal (IL), de João Cotrim de Figueiredo, no dia 14 de janeiro. Na quarta-feira, deu-se o debate mais visto das legislativas até agora. Há dois anos, na pré-campanha para as legislativas de 6 de outubro de 2019, os líderes dos dois maiores partidos tiveram um debate semelhante, organizado e transmitido por RTP, SIC e TVI (visto por 2,66 milhões de portugueses), e protagonizaram também um confronto radiofónico, transmitido pela Antena 1, Rádio Renascença e TSF.

Além disso, a nova sondagem da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e Público aponta para uma estimativa de resultado eleitoral de 39% dos socialistas e de 30% para os sociais-democratas. Em relação à sondagem realizada na semana passada, há um aumento do PS e uma diminuição do PSD nas intenções de voto de cada partido.  

PS vs BE 

No confronto entre António Costa e Catarina Martins abordou-se, principalmente, o fim da Gerigonça, o chumbo do Orçamento de Estado de 2022 e as leis laborais. Num debate temperado a fel, Catarina Martins e António Costa marcaram a distância entre PS e BE, trocaram culpas em relação ao fim do entendimento à Esquerda e assinalaram divergências na Saúde e Trabalho – dois pilares vistos como essenciais para um eventual novo entendimento entre os dois partidos.

António Costa garantiu “que a maioria absoluta não é um objetivo em si”, acrescentando que em 2019 e 2020 a direção do BE decidiu romper o diálogo à Esquerda. “Há dois Blocos [de Esquerda], o que aparece na campanha, que é muito mel, e o que está na Assembleia da República, que é muito fel”, atirou o líder socialista. Costa ainda acusou o BE de votar “para parar e não para avançar” e culpou a líder bloquista de se colar à direita e à extrema-direita no chumbo do Orçamento de Estado (OE).

Por seu lado, Catarina Martins respondeu que o PS pôde sempre contar com o apoio do BE, incluindo durante a pandemia, recordando que foi o único partido de Esquerda que viabilizou sempre os Estados de Emergência e o Orçamento Suplementar. Sobre a Saúde, Costa argumenta que o PS “tem vindo a reforçar sistematicamente o SNS desde 2016”, salientando que há hoje mais 28 mil profissionais e que o OE que o Bloco de Esquerda rejeitou reforçava em mais 700 milhões de euros o orçamento do Sistema Nacional de Saúde (SNS).

PS vs PSD

No debate com o PSD, António Costa garantiu que vai voltar a apresentar o Orçamento de Estado chumbado. Rui Rio, líder do PSD, criticou a linha de “continuidade” de Costa, que já vem desde António Guterres e José Sócrates. Pontes de governação, Saúde, Impostos, Justiça e TAP foram os principais temas discutidos, num debate acesso e com acusações de “populismo”. Além disso, António Costa falou muito do que o PSD propõe mas não defendeu o que o seu partido propõe.

O secretário-geral socialista foi questionado sobre qual é o perigo de ter Rui Rio no governo, mas optou por dizer que o essencial agora é o país concentrar-se na recuperação pós-pandemia. Após insistência na pergunta, o atual primeiro-ministro disse que o perigo não é Rui Rio, mas sim as propostas do candidato, nomeadamente, contra o aumento do salário mínimo e a redução das propinas, numa altura em que as pessoas precisam de ajuda na recuperação económica familiar. “Rui Rio trata as questões com alguma ligeireza, como quando disse num debate, com alguma franqueza, que defende um sistema misto da Segurança Social mas não escreve isso no programa eleitoral”.

Em relação à TAP, que Rui Rio quer privatizar, o secretário-geral do PS disse que “foi graças ao Estado estar presente que conseguimos salvar a TAP”. Questionado sobre se se compromete com uma data para garantir um médico de família para todos, Costa não respondeu. Rio diz que será até ao final da legislatura, entretanto haverá um médico assistente que funcionará como solução transitória. O presidente social-democrata também ironizou os números do líder do PS: “O Dr. António Costa diz que eu é só números e agora é ele que está a debitar números”. 

O debate mais longo do período de pré-campanha, com 75 minutos de duração e um alcance de 3,33 milhões de telespectadores, tocou em questões fundamentais para todos os portugueses, mas ignorou a emergência climática, a cultura e as pessoas em condições precárias. O debate levou muitos portugueses a chegarem a uma conclusão para o dia 30 de janeiro. 

 

Foto: António Costa e Rui Rio / Observador

PS vs IL

João Cotrim de Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal (IL), e António Costa debateram, na sexta-feira, dia 14 de janeiro, principalmente sobre o progresso económico.

Enquanto Cotrim de Figueiredo caracterizou a situação económica como sendo de “estagnação”, apresentando números comparativos com os da União Europeia, atestando a sua versão dos factos, António Costa argumentou em sentido contrário, salientando que “Portugal não se limitou a crescer – cresceu bem”. O presidente da IL apresentou-se no debate munido daquilo que identificou como slides e brincou dizendo que iria bater todos os recordes no recurso a este auxiliar argumentativo. Por seu lado, Costa respondeu que: “não venho armado com slides, basta a realidade”.

O PS criticou as propostas dos liberais no campo fiscal, essencialmente a taxa única de IRS, argumentando, por exemplo, que “paga o mesmo quem ganha 300 euros e quem ganha 300 mil euros”. O candidato da IL defendeu-se argumentando que as soluções cumprem os requisitos constitucionais da progressividade. Além disso, a IL defende um sistema onde os trabalhadores só coloquem metade das suas contribuições no sistema público, ficando o resto para investir, António Costa criticou esta ideia, falando dos riscos que estariam presentes.

Revisto por: João Múrias