Ao longo da segunda semana de debates (entre 9 e 15 de janeiro) para as eleições legislativas marcadas para dia 30 de janeiro de 2022, André Ventura, presidente do partido Chega, debateu com 3 candidatos na corrida à Assembleia da República, enquanto João Cotrim de Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal (IL) marcou presença noutros 4 frente a frentes.
CHEGA vs IL
Domingo, dia 9 de janeiro, foi a vez dos dois líderes partidários, Ventura e Cotrim Figueiredo, se encontrarem numa discussão intensa e acalorada. André Ventura acusou a IL de ser um “partido de privilegiados” e João Cotrim Figueiredo vê o Chega como um partido que “não é confiável, diz tudo e o seu contrário”.
O presidente do Chega começou o debate por denunciar a existência de “um arranjo entre o PSD, o CDS e a IL para passar a mensagem de que o Chega não conta”, já que estes três partidos negam a formação de um governo em que o Chega faça parte. O líder liberal afirmou que “a estratégia do Chega falhou”, que o mesmo “está a perder gás” e “é desorganizado”, defendendo “políticas extremistas e populistas”.
Por sua vez, Ventura denotou a IL de apenas querer saber do lucro: “a IL não é de esquerda nem de direita, é do lucro“. O chega admite ainda “as duas soluções” para a TAP, ou seja, uma resposta pública ou privada, desde que garanta que “Portugal não fica desaparecido”. Quis ainda mostrar que o seu adversário também mudou de posição relativamente ao modelo de pagamento de propinas no ensino superior, tal como defendiam em 2019. Cotrim de Figueiredo esclareceu que essa medida já não se encontra no seu programa.
O presidente da IL criticou o programa eleitoral do partido liderado por Ventura: “Já vi trabalhos do ensino secundário com mais densidade”. O presidente do Chega acusou o adversário de gostar “de ser cool e beto do Príncipe Real”. Por o partido liberal defender um máximo de três meses de prisão preventiva sem acusação, o líder do Chega afirmou “os liberais são tão liberais que não querem ninguém na prisão. Vocês é que geram os Rendeiros desta vida“.
Na discussão em relação ao Rendimento Social de Inserção (RSI), o presidente da IL mostrou um gráfico com uma curta barra relativa ao RSI e uma outra bastante alta relativa à TAP afirmando: “Precisávamos de pagar 220 anos de apoios a pessoas de etnia cigana para gastar o mesmo dinheiro que vamos gastar com a TAP”. Ventura falou ainda da proposta do Chega para uma pensão mínima garantida, mas Cotrim de Figueiredo ripostou, dizendo que Ventura lhe fez lembrar Catarina Martins quando a mesma disse “custe o que custar”.
Ventura, insistiu em dizer que Rui Rio, presidente do PSD, “nunca seria o primeiro-ministro de que Portugal precisa“, caracterizando-o como “o mordomo de António Costa”. Cotrim de Figueiredo acredita que “as ideias são mais importantes do que as pessoas”, pelo que Rio “pode ser um bom primeiro-ministro com um bom programa, se nunca perder a determinação de o executar”.

CHEGA vs CDS
Quarta-feira, dia 12 de janeiro, foi transmitido o debate entre André Ventura e Francisco Rodrigues dos Santos, líder partidário do CDS-Partido Popular (CDS-PP), no qual ambos travaram aquela que possa ter sido a mais agressiva das discussões nestes debates para as eleições legislativas de dia 30 de janeiro.
André Ventura designou o CDS-PP por “a direita mariquinhas” e Francisco Rodrigues dos Santos intitulou o líder do Chega por “rei da bazófia”, um “populista crónico”, afirmando: “Ventura é um cata-vento do sistema político que está sempre do lado que lhe permite fazer mais barulho e «escandaleira» (…). É a caricatura de direita que interessa à esquerda”.
Francisco Rodrigues dos Santos procurou estabelecer um contraste máximo entre os dois partidos, em risco do CDS-PP perder votos para o Chega. Defendeu o seu partido como o legítimo representante dos católicos portugueses, “André Ventura diz-se um católico, critica constantemente a Igreja e o Papa Francisco (…). Mas eu sei que você tem uma missão, é o quarto pastorinho de Fátima e escreve isso no Facebook: não tem noção do ridículo”, refere o líder centrista. Ainda acusou o presidente do Chega de racismo e xenofobia.
Ventura procurou censurar o líder do CDS-PP por este não ter ido a eleições internas, disputando a liderança do partido com o euro-deputado Nuno Melo. “O CDS de Paulo Portas teria vergonha deste CDS de Francisco Rodrigues dos Santos”, colmata o presidente do Chega.
André Ventura esclareceu ainda que só fará um acordo com o PSD se Rui Rio incluir o Chega no Governo, caso isso não aconteça, as propostas sociais-democratas serão vistas “caso a caso”. Já Francisco Rodrigues dos Santos garantiu que o CDS-PP só assinará um acordo com o PSD “caso a eutanásia [de que Rio é a favor] não avance”.
Rodrigues dos Santos terminou o debate a dizer que prefere estar só, do que acompanhado por Le Pen, que rejeita o Holocausto, ou por Salvini, que não celebra a libertação da Itália do fascismo, tal como anda Ventura.
Ambos os candidatos não mostraram respeito pelo adversário ou pelo moderador, tendo sido um debate com pouca discussão ideológica, mas sim ataques pessoais. Não se apresentaram propostas para a Saúde, Educação ou Justiça.

Chega vs PAN
Sexta-feira, dia 14 de janeiro, André Ventura encontrou-se com Inês de Sousa Real, porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) para mais um frente a frente naquilo que se destacou como um debate mais civilizado e equilibrado. Discutiu-se a pobreza energética, um maior investimento no combate às alterações climáticas, ferrovia entre capitais de distrito, a taxa de carbono sobre aviação e navegação.
O PAN afirmou manter abertura para fazer uma coligação tanto com o PSD como com o PS, embora com linhas vermelhas. Em relação ao Partido Socialista exige mais foco na recuperação social e económica. “O PAN deveria ir em coligação com o Partido Socialista”, atacou André Ventura, referindo a proximidade entre os dois partidos e criticando a inconsistência de um partido que se coligaria tanto com o PS como com o PSD.
André Ventura insistiu na ideia de que o PAN se interessa mais pelos animais do que pelas pessoas, reiterando o proibicionismo presente nas medidas do partido. Inês de Sousa Real denunciou a falta de atenção do Chega a matérias que dizem respeito à crise ambiental: “Olhamos para o programa do Chega e tem zero propostas em matéria de alteração climática”.
Ventura também acusou o PAN de prejudicar o mundo rural ao proibir atividades como a caça, o que podia ter um forte impacto nas economias locais, mas a líder do partido ambientalista ripostou com a questão do fim dos maus tratos e crueldade animal, evocando a coelha do interlocutor, Acácia: “No nosso país é possível matar animais como a Acácia à paulada e, portanto, estamos aqui a falar de atividades que não deviam ter lugar no século XXI”.
Ventura expôs o afastamento de uma deputada municipal do PAN na Moita, Setúbal: “Por uma deputada do PAN se ter referido à etnia cigana, que trata mal os cavalos, foi afastada pelo partido”, acrescentou o líder do Chega. Na resposta, Inês de Sousa Real reiterou: “Respeitamos de forma inclusiva todas as comunidades. Repudiamos os maus tratos a animais seja de que comunidade for, incluindo do homem branco que vai para a praça de touros torturar um animal e ainda quer elevar isso a cultura”.
Discutiu-se também o vegetarianismo e a líder do PAN esclareceu que o partido é a favor das liberdades individuais, mas defende uma redução do consumo de carne, tanto pelo impacto na saúde humana e bem-estar animal como pela pegada ambiental.

IL vs PSD
Segunda-feira, dia 10 de janeiro, o líder liberal debateu com Rui Rio, presidente do PSD.
No centro do debate estiveram as principais diferenças entre os dois partidos, no entanto, ficou explícito uma possível abertura para um acordo entre ambos. “Neste momento temos tanto socialismo em cima de nós, tanto Estado em cima de nós que a convergência não é difícil. O problema é que no trajeto que íamos fazer chegaríamos a uma dada altura em que iríamos divergir”, afirmou o líder do PSD sobre a relação das duas forças partidárias.
O presidente liberal respondeu: “Não é só num caminho que divergimos, é na falta de um sentido de urgência e de pressa“, procurando mostrar que a IL é a única alternativa real. “Numa sociedade como a portuguesa, a posição que o PSD assume pode conduzir a uma espécie de alternância, mas não conduz a uma verdadeira alternativa”, explicou João Cotrim de Figueiredo.
Ambos os partidos concordam com a necessidade de descer o impostos, nomeadamente o IRS e o IRC.
Na discussão sobre a privatização da TAP, Caixa Geral de Depósitos (CGD) e RTP, a IL assume-se a favor. Por sua vez, Rui Rio é a favor da capitalização e posterior privatização da TAP, mas coloca restrições quanto à CGD e RTP, afirmando que só privatizaria as mesmas se estas não se revertessem em lucro para os portugueses. “Um banco de capitais públicos com uma cota de mercado apreciável como tem a CGD, entendo que tenha um papel a desempenhar na economia, no financiamento das empresas (…). Acho que um banco público faz sentido. Mas não é um dogma”, declarou o presidente social-democrata.
Relativamente ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), a IL defende que os prestadores “possam ser de qualquer natureza” e Rui Rio acredita que o Estado tem a obrigação de prestar serviços públicos de qualidade, como a Educação e Saúde.
Ganhando as eleições, Rui Rio afirma que facilmente se entenderia com a IL e o CDS. A IL afirma ser a força de inovação de que o PSD necessita: “O PSD precisa da energia reformista da IL para chegar à frente do pelotão, para por Portugal à frente”.

IL vs Livre
Quarta-feira, dia 12 de janeiro, foi a vez do debate entre Cotrim de Figueiredo e Rui Tavares, líder do Livre.
Num tom cordial e civilizado, os dois líderes partidários começaram por discutir a crise climática. O Livre insistiu na emergência ambiental, enquanto a IL criticou o alarmismo dessa questão: “A verdadeira emergência é a emergência da estagnação, é a emergência dos salários baixos, é a emergência da falta de desenvolvimento”, reiterando a importância de manter o foco no crescimento económico. “Só fazendo a economia crescer é que é possível dar resposta às necessidades de correção dos desequilíbrios ambientais”, concluiu o presidente liberal. Por seu lado, Rui Tavares considerou que a emergência climática em Portugal “deve ser entendida como oportunidade para a transformação económica”.
Foi na estratégia para o país crescer que os dois cabeças de lista assumiram as maiores divergências. O presidente do Livre defendeu a necessidade de implementar “uma estratégia comum que não parta de saltos de fé ou milagres”. Nesta altura, Cotrim interrompeu o Rui Tavares para afirmar que os jovens estão a emigrar para “países liberais”, como a Irlanda, Alemanha e Reino Unido.
Durante o debate, o Rendimento Básico Incondicional (RBI) também foi um tópico abordado. O Livre propõe no seu programa um teste piloto do RBI, sem dizer quanto custaria aos cofres do Estado. Cotrim reprova esta proposta, questionando se “é uma loucura absoluta ou é uma mesada que quer dar aos portugueses? 500 euros por mês parece-lhe razoável? Se cada português recebesse 500 euros por mês, a conta anual equivale a salvar 20 vezes a TAP por ano”. Na resposta, Rui Tavares disse que a proposta do RBI custaria um “centésimo” da “fezada” que a IL tem com a taxa única de IRS para o crescimento económico do país.

IL vs PS
Na quarta-feira, dia 12 de janeiro, o líder liberal discutiu com António Costa, presidente do Partido Socialista (PS) e atual primeiro-ministro. Foi um debate muito centrado na Economia, Fiscalidade e Segurança Social, temáticas em que ambos os líderes partidários utilizaram termos muito técnicos.
O presidente da IL começou por dizer que “Portugal está num momento de estagnação. As políticas liberais vão produzir resultados diferentes”, ao considerar que Portugal “não está a crescer de forma satisfatória”, ao contrário do que procura mostrar António Costa.
Sobre a questão da fiscalidade, quando questionado sobre a taxa única do IRS, proposta defendida pela Iniciativa Liberal, António Costa afirmou que no orçamento do PS está indicado que o IRS será reduzido, com um alargamento do número de escalões de sete para nove. Cotrim de Figueiredo insistiu na proposta do partido.
Na discussão sobre a emigração jovem, Cotrim Figueiredo referiu que “nas qualificações temos apostado, e temos a famosa geração mais qualificada de sempre a emigrar, constantemente, às dezenas de milhares por ano”. Costa, em relação à aposta nas qualificações, declarou crucial “investir nas qualificações da sociedade, das organizações, na gestão dos recursos humanos e inovação, que é a chave para o nosso futuro”.
Sobre a Segurança Social, o “sistema que a IL propõe e que Rio disse que aceitava é um sistema que mina a segurança e a estabilidade da Segurança Social”, sustentou António Costa.
O candidato da IL criticou, também, a proposta do PS sobre a redução da semana de trabalho para quatro dias: “Há falta de mão de obra em Portugal. Num cenário destes dizer às pessoas: trabalhem só 30 horas é arranjar problemas”.
Em resposta, Costa esclareceu que não está a falar em 30 horas, mas sim trabalhar menos dias por semana, mas mais horas por dia, defendeu, admitindo: “O meu sonho era nós vivermos num país nórdico em que o diálogo social funcionasse por si e onde o Estado não tivesse que interferir. Infelizmente não vivemos nesse país”.
O secretário-geral do PS defendeu a regionalização, cujo referendo está proposto no seu programa para 2024. Cotrim não assumiu uma posição exata sobre o assunto e promete um grupo de trabalho para estudar a questão, afirmando, no entanto, que “a IL não aceita que uma decisão desta gravidade, provavelmente irreversível, seja baseada em argumentos de conveniência”, referindo-se ao delineamento das regiões pelas áreas de coordenação e desenvolvimento regional.
Já para o fim do debate, João Cotrim de Figueiredo mostrou um longo rolo de papel no qual colocou o resultado que aparece ao pesquisar na internet “António Costa promete…”, ou seja, com aquilo que o líder do PS ainda diz que vai fazer. Costa terminou o debate afirmando que “o mais interessante do programa da Iniciativa Liberal é a aventura fiscal que propõe”, passando a reiterar aquilo que foi o crescimento económico de Portugal durante o seu governo.
