Na segunda semana dos debates legislativos, o encontro entre as duas forças políticas mais abertas a coligação, o PAN e o partido Livre, foi mais uma exposição ideológica, do que um debate de propostas. A causa partilhada entre os dois partidos, o ecologismo, ocupou a maioria do debate que pecou por uma falta de concretização por parte dos candidatos sobre as suas medidas. Um projeto-piloto para testar o Rendimento Básico Incondicional (RBI) é um exemplo do que une os dois partidos, mas ambos faltaram em especificar a abrangência e o orçamento do projeto.
Começando pelas convergências partidárias, ficou claro que ambos os partidos estão dispostos a tal. O Livre já tinha demonstrado vontade de convergência com qualquer partido de esquerda, e o PAN veio tentar esclarecer que, apesar de deixar em aberto um acordo com o PSD, o programa dos sociais-democratas tem algumas linhas vermelhas. Neste seguimento, Inês de Sousa Real, líder do partido ambientalista, destacou a importância do “desafio democrático” de “romper com o bloco central que sistematicamente se forma na Assembleia da República e que tem levado a retrocessos do ponto de vista legislativo”, dando como exemplo o fim dos debates quinzenais, tema que ressurgiu no debate contra o PSD.
PAN vs BE
O confronto entre as duas mulheres representadas nos debates televisivos, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Inês de Sousa Real, começou com uma acusação do PAN de irresponsabilidade política pelo Bloco não ter deixado o Orçamento de Estado para 2022 passar à votação em especialidade. Inês de Sousa Real explicou que “faltar ao país” naquela altura abriu a porta à extrema-direita e à direita liberal, que “vão crescer nestas eleições”. A porta-voz do PAN aproveitou a oportunidade para clarificar que não se coligará com o Chega, algo que não declarou sobre a Iniciativa Liberal.
Apesar da convergência dos dois partidos ao nível da emergência climática, algo que ambos assumiram como prioridade, a conversa passou por discrepâncias sobre a tributação, nomeadamente na descida do IRC, mas também na taxa de carbono sobre a pecuária, uma medida estandarte do PAN, e sobre a qual ainda não conseguiu encontrar concordância noutro partido.
PAN vs Chega
Como já tinha acontecido no debate com o CDS-PP, a posição do PAN face à caça e à pesca desportiva foram fortemente atacadas pelo líder do Chega, pelas suas possíveis consequências em economias locais de Portugal rural. A posição de Inês de Sousa Real manteve-se: estas atividades devem ser proibidas. De igual forma, André Ventura aproveitou para criticar os limites que o PAN pretende pôr à tauromaquia, com o fim de subsídios a esta atividade.
Foi um confronto de visões contrárias sobre o ambiente e direitos dos animais, dois dos temas favoritos do PAN. Por isto, e pelo tom fervoroso diálogo, pouco houve de conclusivo na conversa.
PAN vs PSD
No último frente-a-frente destas legislativas, ficou claro que as oportunidades de coligação do PAN não ficam só restringidas ao PS, mas têm também em conta o outro lado do “bloco central”. Todavia, ficou também evidente que numa possível coligação, o PAN prefere os socialistas aos sociais-democratas.
Ao contrário do debate com António Costa, aqui a porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza deixou claras as linhas vermelhas no programa do PSD para uma possível negociação: Rui Rio tem de se comprometer com a deseucaliptização e com o retorno dos debates quinzenais.
Apesar de em outros debates, Inês de Sousa Real ter alertado para o “desafio democrático” de “romper com o bloco central”, neste confronto não ficou claro como é que uma possível coligação PSD-PAN ou PS-PAN ajudaria a concretizar esse objetivo. Também não ficou bem assente se o PSD consideraria uma coligação com o PAN caso consiga formar governo com a Iniciativa Liberal (IL).
Livre vs IL
No frente-a-frente entre duas forças políticas que procuram um eleitorado jovem e urbano, Rui Tavares fez por frisar a distância entre conceções de liberdade opostas. Em contraste com a liberdade partilhada que o Livre defende, para o fundador do partido, a IL representa um conceito de “liberdade como apenas uma não interferência do Estado”.
Como não podia deixar de ser, as alterações climáticas ocuparam grande parte do tempo. João Cotrim de Figueiredo, líder liberal, voltou a não considerar haver uma “emergência climática” e a insistir nos elevados custos associados a uma transição climática. Do outro lado da mesa, apontou-se a importância deste momento para uma transição económica que promova uma empregabilidade verde.
O único fator de concordância durante o debate foi a necessidade de “simplificação” fiscal, mas foi sobre a tributação que se fez notar as maiores divergências.
Depois do fundador do Livre não especificar quanto custaria um projeto-piloto de RBI em Portugal, João Cotrim de Figueiredo foi rápido ao etiquetar esta proposta como utópica. Por outro lado, Rui Tavares destacou a flat tax da IL como uma “fezada” que diminui a receita fiscal em dois mil milhões de euros, à medida que advogou por um combate assertivo à evasão fiscal, que todos os anos desvia 10 mil milhões de euros dos cofres do Estado. Para isto, o Livre defende uma taxa mínima global de IRC.