Na primeira semana de debates, as intenções de voto no PSD desceram dois pontos percentuais, face às do PS, que voltaram a subir, de acordo com a sondagem da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1. Vários críticos avizinham a derrota dos sociais-democratas a 30 de janeiro, mas o ceticismo do presidente, Rui Rio, quanto à veracidade das sondagens, e o seu optimismo político persistiram nos debates da última semana.

Foto: Rui Rio e João Cotrim de Figueiredo / Notícias ao Minuto

PSD vs. IL

O primeiro debate do PSD da semana passada realizou-se a 10 de janeiro contra João Cotrim de Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal (IL). Dois partidos com objetivos idênticos, mas caminhos distintos, confrontaram-se entre as diferentes matrizes ideológicas que os separam, principalmente no que toca ao papel do Estado na sociedade e na economia. Alterações na carga tributária, com especial destaque ao IRS e IRC, privatizações de setores e empresas estratégicas, como forma de equilibrar as contas públicas, o investimento no Sistema Nacional de Saúde (SNS) e a futura relação entre os dois partidos foram os principais temas num debate cordial e ideológico.

Cotrim de Figueiredo considera que “o imposto de taxa única com isenção é progressivo” e, além de atribuir mais poder de compra, diminui a desigualdade económica e social na medida em que valoriza, de facto, o esforço e o trabalho, já que “temos um gravíssimo problema da saída de jovens qualificados de Portugal, em boa parte por causa da excessiva progressividade do nosso IRS”. Também adianta que os seus cálculos estão feitos para que “ninguém pague mais imposto, todos pagam menos imposto”. Embora ambos convirjam na descida da carga fiscal, o PSD não defende a taxa única de IRS da IL.

Quanto à privatização de empresas estratégicas, como a TAP, CGD e RTP, a IL é a favor, ao contrário do PSD que afirma, por exemplo, no caso da CGD, que um banco com capital público “tenha um papel a desempenhar na economia, no financiamento das empresas”.

Relativamente ao SNS, Cotrim de Figueiredo defende que os prestadores “possam ser de qualquer natureza” (privada ou pública). Rui Rio considera que o Estado tem a obrigação de prestar serviços públicos de qualidade, independentemente da sua proveniência, afirmando que acordos com o setor privado em matéria de gestão hospitalar originam um serviço mais eficiente aos portugueses.

Foto: António Costa e Rui Rio / Público

PSD vs. PS

O grande debate entre os maiores partidos portugueses decorreu-se a 13 de janeiro, entre Rui Rio e António Costa. Com mais de 3,2 milhões de telespectadores, o debate durou mais de uma hora e várias foram as divergências e acusações. Num debate “duro”, debateu-se o futuro das negociações entre os partidos, o setor da Saúde e da Justiça, o aumento do salário mínimo e do poder de compra dos portugueses, a carga fiscal e a presença do Estado na sociedade e na economia e a comparação da governabilidade social-democrata em 2011.

António Costa, convicto do seu potencial, afirmou que nunca voltará as “costas aos portugueses” e que “desde que não perca as eleições” encontrará uma boa solução de Governo.

Durante o debate, a questão do futuro dos socialistas esteve muitas vezes em cima da mesa. Rui Rio alertou para o “perigo” de Pedro Nuno Santos suceder a António Costa na liderança do PS e um dia formar Governo com uma coligação com o BE.

Para enaltecer a governação da “geringonça” António Costa declarou que virou “a página da estagnação desde que [é] primeiro-ministro”.

Quanto à descida dos impostos, Rui Rio, mais uma vez, demonstrou-se convicto da sua estratégia de descida tributária generalizada, já que o “modelo atual dá fraca resposta“. No entanto, António Costa demonstrou-se cético e acredita na criação de mais escalões de IRS como forma de promover a igualdade de a justiça fiscal entre os contribuintes.

António Costa ainda acusou o Governo PSD/CDS-PP de não ter garantido a atribuição de um médico de família para todos, durante a discussão entre a eficiência do SNS.

Rui Rio reiterou o interesse do seu partido em privatizar a TAP, de forma a controlar as contas públicas. Porém, o líder socialista declarou que a companhia gera 3 mil milhões de euros de exportações anuais e compra 1300 milhões de euros de produtos e serviços a empresas portuguesas, de maneira a defender a contínua subsidiarização e a permanência na esfera do controlo público da transportadora aérea.

Foto: Inês de Sousa Real e Rui Rio / Diário de Notícias

PSD vs. PAN

O último debate da semana dos sociais-democratas decorreu no sábado, 15 de janeiro, contra Inês de Sousa Real, líder do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN). Os principais tópicos debatidos foram o possível apoio do PAN a um Governo PSD, as alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da proposta das 35 horas semanais e reposição das regras de indemnizações pré-troika, políticas agrícolas, direitos dos animais e a equidistância do PAN entre a esquerda e a direita.

Inês de Sousa Real demonstrou-se disponível para negociar com um Governo, quer socialista, quer social-democrata. Rui Rio saudou esta disponibilidade: “Queria elogiar esta atitude de abertura à negociação”. A porta-voz do PAN adianta que defende o regresso dos debates quinzenais (terminados graças a um acordo entre PS e PSD), embora Rui Rio discorde, pois os debates quinzenais visavam apenas o “espetáculo mediático”, e diminuir o número mínimo de assinaturas necessárias para apresentação de petições no Parlamento.

Quanto ao ambiente, o PAN compromete-se, por exemplo, a colocar o sector das florestas na tutela do Ministério da Agricultura, além de acabar com isenções fiscais a indústrias poluentes e rever a localização do futuro aeroporto do Montijo, para combater a emergência climática e a preservação dos ecossistemas na margem sul do rio Tejo.

Rui Rio e Inês de Sousa Real divergiram nas intenções de diminuir o IRS e IRC. O presidente social-democrata acredita que não é possível “agravar a dívida pública, que já vai em 130% do PIB, nem o défice, tem que se fazer o equilíbrio possível”.

 

COLIGAÇÃO DEMOCRÁTICA UNITÁRIA – CDU

Com o líder da Coligação, Jerónimo de Sousa, ausente nos debates e na campanha pré-eleitoral, depois de necessitar de uma intervenção hospitalar, é João de Oliveira que representa o PCP e o PEV nos debates. De acordo com a sondagem da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, a CDU desceu nas estimativas de voto para 5%. Há uma semana, a mesma previsão era de 6%. Antes de se iniciar a semana de campanha eleitoral, a Coligação, devido ao boicote aos debates nos canais por cabo (SIC Notícias, RTP3 e CNN Portugal), apenas debateu com o PSD.

Foto: João de Oliveira e Rui Rio / SIC Notícias

PSD vs CDU

O debate realizou-se a 12 de janeiro entre Rui Rio e o representante do secretário-geral, João de Oliveira. Num frente-a-frente isento de grandes interrupções, mas várias divergências ideológicas, os temas foram muito variados: a questão da sucessão de Jerónimo de Sousa no PCP, as consequências socioeconómicas das propostas do alívio tributário, o método a utilizar para aumentar o nível geral de salários, o chumbo do Orçamento de Estado para 2022 pelos comunistas e, por fim, a questão da envolvente pandémica no isolamento dos eleitores infetados com Covid-19.

No início, João de Oliveira, quando questionado sobre a sucessão na liderança do partido, afirma que “essa questão não está colocada”. Ambos os partidos acreditam numa taxa reduzida de IRC. Contudo, a CDU considera que apenas uma “taxa reduzida de IRC para as Pequenas e Médias Empresas (PME’s)” é justa, porque a atribuição de benefícios fiscais a grandes empresas iria prejudicar o trabalhador e aumentar a sua exploração. O PSD defende a descida generalizada do IRC, como impulsionador da atividade produtiva nacional e consequente aumento das exportações e criação de mais e melhor emprego com um nível de salários superior. Também o representante da CDU adianta que “o aumento geral dos salários é uma emergência nacional”.

Durante o debate foi por várias vezes contrastada a abordagem económica de ambos os partidos. Rui Rio declarou que “o PCP defende um modelo económico de coletivização que leva, segundo a história, ao empobrecimento”, além de defender que a matriz social-democrata do partido tem como interesse zelar pela proteção dos mais desprotegidos: “Não desperdiçarei nenhuma oportunidade para melhorar a vida de todos, principalmente a dos mais desfavorecidos”. 

 

Revisto por: João Múrias