As anteriores eleições legislativas de 2019 ficaram marcadas como uma das piores para o Partido Social-Democrata. Com um resultado eleitoral de apenas 27,76% e 79 deputados eleitos, o partido perdeu a maioria parlamentar do anterior mandato e a sua presidência foi por várias vezes questionada.

No entanto, a antecipação das eleições legislativas para 30 de janeiro, em resultado da atual crise política, aflorou-se como uma oportunidade para o PSD alcançar melhores resultados na corrida à Assembleia da República, encabeçada pelo seu líder, Rui Rio.

Foto: André Ventura e Rui Rio / TSF

PSD vs. Chega

O primeiro debate do PSD decorreu no dia 3 de janeiro contra o presidente do Chega, André Ventura. Num confronto marcado, principalmente, pelas medidas políticas do programa eleitoral do Chega, como a prisão perpétua, que Rio é contra. Também houve espaço para a questão do centralismo do PSD, um possível apoio do Chega ao executivo social-democrata e sobre os cortes em apoios sociais.

André Ventura acusou que “Rui Rio quer ser vice-primeiro-ministro de António Costa”, que “ninguém vota no Chega para ser muleta do PSD”, mas que estará disponível para falar com o líder do PSD. Contudo, Rui Rio nega uma possível coligação com André Ventura, pois este não tem “mão no partido” e é líder de “um partido radical”. Rui Rio é “totalmente contra o corte de subsídios”, mas quer “fiscalizá-los”, já que “sem apoios sociais, 43% da população era pobre”. Por fim, André Ventura afirmou que o PSD permitiu “que fosse para a TAP o dobro do que para o Sistema Nacional de Saúde (SNS)”.

Foto: Catarina Martins e Rui Rio / Público

PSD vs. BE

Depois, foi a vez do PSD confrontar Catarina Martins do Bloco de Esquerda (BE) no dia 05 de janeiro. O debate foi marcado pela convergência na intenção de conceder melhores salários aos portugueses, mas também na divergência na forma de como atingir esse objetivo; a posição dúbia do presidente do PSD no espetro político; e o futuro da gestão do SNS e da sustentabilidade da Segurança Social. Catarina Martins mencionou por várias vezes a necessidade de inverter o “abuso sobre os trabalhadores”.

Catarina Martins afirmou que “o quadriénio em que Portugal cresceu mais, desde a entrada no euro, foi entre 2015 e 2019” e, portanto, realçou o que considera ser uma conquista do arranjo político da legislatura anterior, ou seja, com “melhores serviços públicos (…) a economia funciona melhor”. Assim, Rui Rio disse que para melhores salários, é necessária “uma economia robusta, que aposte no lado da produção, exportações e investimento”.

Quanto à Saúde, Rio defendeu que as Parcerias Público-Privadas (PPP) conseguem proporcionar uma gestão do SNS mais eficiente e proveitosa para ambas as partes. No entanto, Catarina Martins continua a negar essa possibilidade, já que “a saúde não pode ser um negócio”.

Por fim, Rui Rio levantou a hipótese de criar um sistema de Segurança Social misto, “com uma base pública que pode ser complementada com uma base de capitalização”, que iria proporcionar mais e melhores pensões aos reformados e garantir a sanidade das contas públicas, embora o BE discorde dessa aproximação.

PSD vs. CDS-PP

O terceiro debate do PSD foi com o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos no dia 7 de janeiro. A disputa amena entre os antigos aliados de direita ficou marcada por temas fraturantes para os conservadores, como a eutanásia e a doutrina de ideologia de género nas escolas. A orientação política de Rui Rio e questões sobre a carga fiscal, a Saúde e a TAP também foram discutidos. 

Rui Rio esclareceu que este não era “um debate entre dois partidos de direita”, mas sim “entre um partido de direita [CDS-PP] e um partido do centro [PSD]”. Também afirmou que a coligação entre os dois partidos “é muito mais a exceção que a regra” e que “se ganhar e não tiver maioria, o primeiro a dialogar é com o CDS”. Rodrigues dos Santos acredita que “o CDS é o voto útil à direita, o antídoto para um bloco central”.

Relativamente à eutanásia, enquanto o PSD é “maioritariamente” contra, os valores éticos do CDS impõem a negação desta prática. Rodrigues dos Santos vai mais longe e afirma que “não negoceia o valor da vida”.

Já em matéria de impostos e privatizações, ambos demonstraram forte convergência nas ideias. Rui Rio defende a descida do IRS e do IRC para fomentar o crescimento económico e o aumento dos salários, embora considere que “a única questão é se é primeiro o IRS ou o IRC a descer”.

Quanto à ideologia de género, o CDS-PP demonstrou-se contra a sua proliferação pelo Estado, pois “não tem direito a doutrinar as crianças” com esta matéria.

No final, Rui Rio disse aos telespectadores que “se não quiserem votar no PSD, votem no CDS”.

Foto: Rui Rio e Rui Tavares / Jornal i

PSD vs. Livre

O último debate do PSD da semana foi contra o Livre de Rui Tavares, a 8 de janeiro. As divergências foram vastas. Os principais temas que dividiram as ideologias dos partidos foram a questão da subida do salário mínimo, o papel da carga fiscal e do estado social no bem-estar da população e a proposta do Livre sobre o alargamento do subsídio de desemprego àqueles que pedem demissão.

Ambos os partidos acreditam na necessidade em atribuir mais e melhores salários aos portugueses. Porém, o PSD acredita que este objetivo é atingido através da descida da carga fiscal como principal impulsionador do aumento do investimento e do rendimento no país, já que “até agora, têm sido cobrados impostos a mais”. Face a este plano, Rui Tavares expôs a hipótese de o “PSD acreditar em milagres”, embora reconheça que a redução “do IVA é desejável”, e comparou por várias vezes o cenário salarial português ao espanhol, defendendo que o aumento do salário mínimo nacional para 1000€ é viável e necessário. Além disso, o Livre apoia a criação de um “projeto piloto de rendimento básico incondicional”.

Quanto ao alargamento da abrangência do subsídio de desemprego, Rui Rio achou “surrealista dar um subsídio de desemprego a quem se propõe para o desemprego”, embora Rui Tavares reitere que este novo molde apenas iria englobar os que se demitem em contexto de requalificação profissional.

 

CDU

A coligação CDU, que une o PCP e o PEV, assistiu a uma redução do resultado eleitoral nas últimas legislativas. Conseguiu eleger 12 deputados representativos de 6,33% dos votos. Depois de ter feito parte de uma solução política que lhe permitiu possuir uma atividade política mais ativa no mandato iniciado em 2015, a coligação entre o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes” não quer reduzir a sua representação parlamentar nas próximas eleições de 30 de janeiro.

A coligação encabeçada por Jerónimo de Sousa há mais de uma década, recusou-se a participar nos debates que tenham lugar nos canais por cabo (SIC Notícias, RTP e CNN Portugal), marcando presença apenas nos canais em sinal aberto (RTP, SIC e TVI). Desta forma, não irá debater com Bloco de Esquerda, Livre, Chega, CDS, PAN e Iniciativa Liberal.

Foto: António Costa e Jerónimo de Sousa / Jornal de Notícias

CDU vs. PS

O único debate do PCP na primeira semana realizou-se contra o PS, a 4 de janeiro. Os temas dominantes foram a recusa do líder socialista quanto às propostas do PCP para o Orçamento de Estado de 2022, mas também o futuro da relação entre os dois partidos, o aumento do salário mínimo nacional, para atribuir um nível de vida digno aos trabalhadores e a precariedade no Sistema Nacional de Saúde.

Uma das primeiras acusações de Jerónimo de Sousa a António Costa foi o facto de as negociações orçamentais terem chegado a um ponto, em que o PS desistiu e “ao invés de encontrar soluções, começou a pensar em eleições”. António Costa, indignado, questionou se algum primeiro-ministro alguma vez iria durante uma crise pandémica e económica querer ir a eleições antecipadas e Jerónimo de Sousa não demonstrou grande reação. António Costa continuou a usar os vários aumentos do salário mínimo como conquista da sua governação, embora, o secretário-geral do PCP considerou que poderia ter sido feito mais. Quando ao SNS, António Costa afirmou que a precariedade neste setor foi combatida pelo reforço dos quadros com “28 mil profissionais”.

Num debate sem interrupções, Jerónimo de Sousa demonstrou-se aberto a futuras concertações entre os partidos, ao contrário de António Costa que apresentou-se com uma postura cética.

 

 

Revisto por: João Múrias