Depois das eleições legislativas com maior sucesso na história do PAN, o partido entra na corrida à Assembleia da República com uma nova líder, Inês Sousa Real, e uma estrutura interna renovada. O objetivo é eleger, pelo menos, o mesmo número de deputados de 2019, ou seja, quatro.

Foto: Inês Sousa Real / Lusa

PAN vs CDS-PP

No primeiro debate televisivo, nem Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, nem Inês Sousa Real tiveram um bom desempenho. Numa conversa marcada por touradas e o mundo rural, a porta-voz do PAN não soube explicar como conciliar a taxa de carbono com uma inevitável subida da carga fiscal para as famílias. Ambos os candidatos ficaram aquém, numa discussão com pouco conteúdo e ainda menos propostas concretas.

PAN vs IL

Em oposição, no seu seguinte confronto, com o presidente da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, a candidata do PAN conseguiu ter um dos melhores debates destas legislativas. Numa discussão que penou por só ter 25 minutos, discutiu-se a economia verde, a TAP, o Sistema Nacional de Saúde (SNS), o salário mínimo, entre outros. Um PAN mais ambientalista e uma IL mais orientada para a economia não são os primeiros dois partidos que vêm à mente quando se pensa em “coligação”. No entanto, depois deste debate há quem tenha ficado com dúvidas. Talvez pela eterna indefinição do PAN em se identificar como esquerda ou direita, isso permite que o partido nunca feche por completo uma porta (exceto ao Chega), mantendo-se aberto a coligações tanto com a Iniciativa Liberal como com o Partido Socialista (PS).

PAN vs PS

Foi com o secretário-geral do Partido Socialista, e atual primeiro-ministro, que Inês de Sousa Real teve o seu terceiro debate, quase inteiramente preenchido pela agenda do PAN. Talvez os dois partidos com uma melhor relação a entrar nas eleições, o PS e o PAN falaram do tema mais importante da atualidade: o clima. Inês de Sousa Real soube lançar as devidas críticas ao primeiro-ministro pela forma como lidou com o encerramento da Refinaria de Matosinhos, num discurso marcado pela importância da requalificação da mão-de-obra na transição energética. Também criticou António Costa pela opacidade dos contratos assinados entre o Estado e exploradoras de lítio, mas não conseguiu refutar o inevitável crescimento económico proveniente desta atividade.

Depois de um início atribulado, Inês de Sousa Real mostrou ser uma candidata formidável, ao apresentar consistentemente os pontos-chave do PAN: ambiente e animais

Foto: Rui Tavares / Livre

Talvez pela dificuldade que o Livre teve em ser representado nos debates televisivos, ou pelo mandato interrompido na anterior legislatura, com a retirada da confiança à deputada Joacine Katar Moreira, Rui Tavares tem-se mostrado como uma novidade, destacando-se entre os demais candidatos. Nas primeiras legislativas do Livre com o seu fundador como cabeça de lista, o partido tem oportunidade de repetir o resultado que alcançou em 2019 e eleger, pelo menos, 1 deputado.  

Livre vs PS

Logo no seu primeiro encontro, com António Costa, Rui Tavares fez por clarificar o que diferencia o Livre dos outros partidos de esquerda. Para Tavares, o seu partido “não está na dúvida entre ser a esquerda da intransigência e a esquerda da convergência”, alinhando-se claramente com a última opção. Numa conversa marcada pela amigabilidade, tal como o debate com o Bloco de Esquerda (BE), os dois candidatos concordaram em vários temas, como o salário mínimo nacional. No entanto, e apesar de uma disposição do Livre em coligar-se com o PS, António Costa mostrou-se irredutível.

Livre vs BE

O líder do Livre tem apresentado o seu partido como uma alternativa progressista e ecológica, sem esquecer o europeísmo, bem assente no discurso de Rui Tavares, por exemplo no debate com Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda. Neste confronto entre partidos que, para Rui Tavares, disputam “o mesmo eleitorado”, o cabeça de lista por Lisboa frisou duas críticas ao BE: os resultados das negociações do Orçamento de Estado, que não chegaram à especialidade; e o ceticismo do Bloco em relação à União Europeia.

Livre vs Chega

Foi no debate com André Ventura que Rui Tavares teve o seu melhor desempenho. Frente ao que intitulou de “um candidato do sistema”, o líder do Livre soube manter a sua postura perante as acusações de Ventura e, simultaneamente, apontar a falta de detalhe no programa do Chega. Num formato com tempo reduzido, seria de esperar que o discurso de Ventura fosse suficiente para constranger o líder do Livre em relação a algumas medidas mais progressistas do seu programa eleitoral. Por exemplo, a aplicação de Rendimento Básico Incondicional (RBI) ou o alargamento do subsídio de desemprego para alguns casos em que a própria pessoa se demita, tinham potencial para ser prejudiciais para o Livre. No entanto, diria que estes momentos serviram até para mostrar a preparação e a seriedade com que o partido fez o seu programa.

Livre vs PSD

No debate com Rui Rio, líder dos sociais-democratas, marcada pela tributação e o salário mínimo nacional, Tavares teve talvez o seu pior desempenho, especialmente nas questões económicas. Apesar de ter criticado Rio sobre a proposta de descida de impostos do PSD, não soube ele mesmo justificar a sua proposta de subida do salário até 1000€ no final da legislatura, aproximando-se do valor do salário mínimo de Espanha. 

 

Revisto por: João Múrias