A Guerra Civil na Etiópia é travada há mais de um ano, na região mais a norte do país – o Tigré. De um dos lados, encontra-se o governo etíope, que procura afirmar-se na zona e conta com o apoio das tropas da Eritreia (país vizinho), do outro, os dissidentes da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT).
A existência de conflitos neste país tem-se estendido ao longo do tempo, mas este distingue-se por ter, na sua origem, uma promessa de paz. O atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, foi eleito em 2018 e a sua agenda reformista e ambiciosa aparentava ser uma lufada de ar fresco na região. O seu esforço em reforçar a paz com a Eritreia valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz em 2019.
Contudo, apenas um ano depois, iniciou-se um conflito interno que, mesmo com os apelos da Organização das Nações Unidas (ONU) para o diálogo e cessar-fogo, permanece aceso.
Como é que tudo começou?
A Etiópia é o segundo país africano mais populoso, com mais de 110 milhões de pessoas. Há mais de um ano atrás, o primeiro-ministro etíope anunciou o início de uma ofensiva militar contra a FLPT, após um ataque às bases do Exército Federal. Os rebeldes do Tigré desafiavam o poder de Abiy há algum tempo e este foi o despoletar de uma guerra interna em busca do poder económico e político.
Para compreenderes melhor os antecedentes da guerra atual, consulta a seguinte timeline, que inclui informação mais detalhada, desde o século XIX até à atualidade:
Fontes: Vox e Relatório da ONU.
Nota: A timeline constitui um resumo simplificado da situação na Etiópia. A realidade, como é esperado, é mais complexa.
Crise Humanitária
No início do mês de novembro, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Etiópia, publicaram um relatório sobre a situação atual no país. O documento tem como base 296 entrevistas confidenciais e 64 reuniões com as autoridades locais e federais da Etiópia, organizações não-governamentais e equipas médicas. Eis algumas situações destacadas pela ONU:
Fonte: Relatório da ONU
Estes factos traduzem o dia-a-dia de milhares de pessoas. Há relatos de “vítimas [que] são espancadas com cabos elétricos e barras de ferro e mantidas presas de forma incomunicável, ameaçadas com armas de fogo e privadas de comida ou água”. É referido, também, o caso de um jovem de 16 anos que se suicidou após ter sido violado por soldados eritreus.
Face à destruição e ao cenário de terror que se vive no norte da Etiópia, muitos etíopes veem-se obrigados a refugiar-se no Sudão. Em novembro de 2020, uma média de quatro mil pessoas cruzavam diariamente a fronteira em busca de melhores condições. Em abril deste ano, estimava-se que mais de 60 mil etíopes tinham fugido para o Sudão.
Ambas as partes envolvidas no conflito são acusadas de atacar civis e ter como alvos as escolas, os hospitais e os locais de culto. Contudo, entre as atrocidades cometidas, a verdade é apenas uma: a promessa de paz para o povo etíope tornou-se, afinal, numa nova guerra.