Milhares de migrantes encontram-se junto à fronteira da Bielorrússia com a Polónia a tentar entrar na União Europeia (UE) em busca de melhores condições de vida. Provenientes maioritariamente de países do Médio Oriente, estes refugiados viram-se bloqueados junto ao arame farpado na fronteira entre a Bielorrússia, que não faz parte da UE, e a Polónia, que integra o bloco europeu e que, portanto, representa para estas pessoas uma verdadeira porta de entrada na Europa.
A União Europeia descreve a crise como fruto de um plano orquestrado por Minsk, capital da Bielorrússia, com o apoio de Moscovo, de modo a criar pressão, ao encorajar os migrantes a entrarem em solo europeu.
O Presidente do regime ditatorial bielorrusso Alexander Lukashenko, que tem sido alvo de sanções e de acusações por parte da Europa pela forma como reprime a oposição interna, mandou, alegadamente, transportar migrantes em massa para junto da fronteira com a Polónia, em autocarros, justamente para confrontar a Europa com a crise atual. De forma a mostrar insatisfação com a maneira como tem sido tratado na UE, Vladimir Putin apoia Lukashenko, tendo prestado auxílio neste transporte.
“O regime de Lukashenko não é independente, planeia as suas ações juntamente com Moscovo”, referiu Egils Levits, presidente da Letónia, acrescentando que “a Rússia está ligada de uma forma ou de outra à crise dos migrantes”, uma vez que alguns deles viajam para a Bielorrússia a partir do Iraque, passando por Moscovo.
A crise de refugiados já dura há algum tempo, mas agrava-se a cada dia que passa, não só com a chegada de mais gente, mas também com a aproximação de um inverno repleto de temperaturas gélidas, causando sinais crescentes de desespero nos migrantes. O cenário é de migrantes de um lado e um cordão de militares polacos armados do outro. A Polónia recusa recebê-los e a União Europeia anunciou mais sanções contra a Bielorrússia, acusando o país de usar os refugiados como arma de arremesso.
Não existem dados definitivos sobre o número total de vítimas até à data, mas, segundo a guarda fronteiriça polaca e organizações locais, até dia 25 de novembro tinham sido contabilizadas pelo menos 12 mortes do lado polaco da fronteira.
Agata Ferenc, uma ativista que presta apoio no local a refugiados, quando inquirida sobre se a Polónia está a respeitar os valores comuns da União Europeia, ao negar-se a acolher os migrantes, respondeu: “A sociedade europeia mostra que os nossos valores são manter o nosso nível de vida”.
“É óbvio para nós que são ações políticas de Lukashenko dirigidas contra a Polónia e contra a União Europeia”, referiu Marianna Wartecka, pertencente ao grupo de direitos dos refugiados Fundacja Ocalenie. “Mas isso não justifica as ações do Estado polaco.”
No mês passado, o Parlamento polaco deu luz verde à construção de um muro na fronteira com a Bielorrússia. Na quarta-feira, dia 17 de novembro, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou na Polónia a disponibilidade europeia para financiar a construção do mesmo na fronteira com a Bielorrússia – uma solução muito controversa e que a Europa tanto criticou, recentemente, a Donald Trump.
Os contratos para construção do muro serão assinados até 15 de dezembro. A obra está prevista começar em dezembro de 2021 e o projeto custará cerca de 353 milhões de euros, abrangendo 180 quilómetros, anunciou o ministro polaco do Interior e Administração, Mariusz Kaminski. O objetivo é estar finalizada no primeiro semestre de 2022, pelo que a construção vai decorrer durante 24 horas por dia.
“O projeto que precisamos de concretizar é um investimento absolutamente estratégico e prioritário para a segurança da nação e dos seus cidadãos”, anunciou o ministro polaco Mariusz Kaminski.
O governo polaco não está preparado para ceder na abertura da fronteira e do corredor humanitário. O Reino Unido enviou engenheiros militares para a fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia para reforçar a defesa polaca. Por outro lado, a Rússia também começou a realizar manobras militares em conjunto com a Bielorrússia.