Disputas internas nos partidos de direita, falta de atitude reformista, um Orçamento do Estado reprovado e um governo ainda em funções. É assim caracterizado o cenário político em Portugal: uma crise política e uma direita que muitos consideram sem rumo nem objetivos determinados.
Chumbado o OE, a direita tenta reformular-se rapidamente a tempo das próximas eleições legislativas antecipadas, marcadas para 30 de janeiro do próximo ano.
Várias personalidades do CDS-PP abandonaram o partido, como o antigo vice-presidente, António Pires de Lima, justificando que “o partido bateu no fundo”, depois das eleições internas terem sido adiadas para depois de 30 de janeiro. Também Adolfo Mesquita Nunes abandonou o partido, depois de ter publicado no Facebook que “é em nome da liberdade que [se] desfilia”. O presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, numa entrevista ao Observador, acusou críticos internos de quererem “caos” e “peixeirada”, embora não tenha “medo” de ir a votos.
Com base numa sondagem realizada pela INTERCAMPUS, o eurodeputado Nuno Melo, candidato à liderança do partido, é tido como uma melhor alternativa a Rodrigues dos Santos, com uma taxa a favor de 45,8%, face aos 25% do atual presidente. De acordo com uma outra sondagem, realizada pela Católica à RTP e Antena 1 entre os dias 29 de outubro e 4 de novembro de 2021, estima-se que o CDS-PP nas próximas eleições legislativas, terá um resultado eleitoral de 2%, metade do obtido em 2019 (4,22%).
Uma maioria do Conselho Nacional do PSD, contra a vontade da Comissão Permanente Nacional, antecipou as diretas para dia 27 de novembro e o Congresso Nacional para 17, 18 e 19 de dezembro. Rui Rio quer manter a presidência e liderar um bloco-central, enquanto Paulo Rangel quer acabar com a “claustrofobia democrática” e “libertar a sociedade, com menos Estado, menos impostos, mais iniciativa”, de acordo com uma entrevista à Visão, e, assim, tentar reformar a direita e a economia nacional.
De acordo com o Jornal de Negócios, Rio defende que “o primeiro objetivo de um governo PSD tem de ser conseguir melhores salários”. Também afirma que o reforço do salário mínimo deve ser acompanhado nos “restantes salários, principalmente no salário médio, que estagnou”. Ao Diário de Notícias, considerou que outro objetivo determinante é o “reforço dos serviços públicos e da qualidade do Serviço Nacional de Saúde”, a revisão da Constituição da República Portuguesa, do sistema eleitoral, reformas na Segurança Social – para que esta seja sustentável – e uma “reforma fiscal”. O presidente do PSD mantém o foco em 30 de janeiro, apesar de acreditar que as eleições internas “meteram-se pelo caminho”.
Rangel, numa entrevista à Renascença, não acredita que António Costa e Rui Rio são boas opções para governar o país, já que são “pessoas do sistema” há mais de 40 anos. Sendo assim, entende que é necessário “fazer a transição geracional” para uma política mais dinâmica e renovada e para os “desafios de uma sociedade digital, em que está o teletrabalho e as alterações climáticas”, e para os novos atores do cenário geopolítico como “a China ou a Ásia”.
O eurodeputado reitera várias vezes ao longo da sua campanha a necessidade em “criar riqueza para combater pobreza” e aponta os atuais dirigentes políticos como os responsáveis pela sua inexistência. Sendo assim, defende o aumento moderado do salário mínimo, um alívio fiscal – principalmente ao nível do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) – e ainda a criação de uma rede universal de ensino pré-escolar gratuito.
Rui Rio, numa carta aos militantes, afirma que estas diretas “parecem afigurarem-se totalmente desajustadas das circunstâncias que o País está a viver e dos objetivos que o PSD deve prosseguir”. Também Rangel considera melhor deixar esta disputa para depois das eleições. No entanto, esta corrida interna é tomada por críticos como uma oportunidade, relativamente ao debate de ideias e programas estruturais para o país e ao tempo de antena dispensado para este fim, que pensam ser algo essencial para destacar a social-democracia em Portugal, de modo a tornar o partido uma “alternativa legítima ao PS”.
De acordo com uma sondagem da AXIMAGE para o DN, JN e TSF, realizada entre os dias 28 e 31 de outubro de 2021, 38% dos inquiridos consideram Rui Rio o preferido para líder do PSD, e 31% escolhem Paulo Rangel. 52% do eleitorado que diz votar PSD nas legislativas, apoia Rio, face aos 37% que escolhem Rangel. Esta sondagem também clarificou que os inquiridos consideram Rio como o mais “competente”, “solidário/próximo das pessoas”, “influente” e “honesto”.