Os problemas ambientais não são preocupações do presente. Somos alertados, há vários anos, para questões ligadas às alterações climáticas e à necessidade de criação de políticas ambientais eficazes. Não obstante, a crise climática tem vindo a agravar-se e as consequências começam a ser visíveis.
Deste modo, hoje mais do que nunca, é essencial falar dos desafios que enfrentamos e do modo como podemos resolvê-los. Como se atinge a transição energética sem colocar em risco o crescimento económico? Qual o papel dos jovens nesta mudança?
Para que este tema possa ser debatido sob todas estas perspetivas, a Academia de Política Apartidária organizou a oitava Political Talks – “A Política Ambiental ainda está Verde?” -, que contou com a participação de Francisco Guerreiro, eurodeputado pelo grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia e vice-presidente da Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu, e de Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável e professor e investigador no departamento de Ciências da Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa.
Cuidar do ambiente: um esforço individual ou coletivo?
No nosso dia a dia, somos alertados para a importância de tomar atitudes que contribuam para a proteção do meio ambiente. Desde os tempos de infância, pedem-nos para reduzir o desperdício, ensinam-nos a reutilizar os recursos e dizem-nos que devemos reciclar os resíduos. No entanto, quando nos apercebemos da ausência de preocupação ambiental por parte das grandes indústrias e no modo como isso se traduz na poluição ambiental em larga escala, questionamos a importância das ações individuais.
“O esforço de cada um não é, de forma alguma, dispensável”, defende Francisco Ferreira.
Na perspetiva do professor universitário, apesar de todos os elementos da sociedade terem responsabilidades ambientais, os cidadãos, enquanto consumidores, assumem um papel de grande relevo.
Francisco Guerreiro concorda e refere que “todas as nossas decisões têm impacto”, seja através das escolhas alimentares, da forma como nos deslocamos ou, até, no modo como exercemos o direito de voto. O eurodeputado reconhece que as condições financeiras têm influência nestas decisões, mas realça que estar “bem informado” e ter uma presença ativa na vida política têm um peso maior.
Acrescenta, ainda, que um dos principais problemas do combate às alterações climáticas é “a falta de vontade política” e enfatiza a noção de que “todos os meios necessários estão ao nosso alcance”.
“De hoje para amanhã podemos não inventar nenhuma tecnologia e já tínhamos as soluções para conseguir reverter e mitigar grande parte das alterações climáticas”, constata o eurodeputado.
Quanto às soluções, Francisco Guerreiro defende que devem passar por um “mapeamento das zonas com maiores emissões de gases com efeito de estufa” e por uma adoção de políticas públicas que atuem na origem do problema, a par da garantia de execução por parte do setor privado.
Francisco Ferreira, por sua vez, menciona a redução das emissões ligadas à produção de eletricidade, aos transportes e à indústria, como caminho para a mudança.
Uma economia mais verde
A pandemia obrigou a várias pausas na economia mundial. A redução inesperada da atividade humana resultou, inclusivamente, na redução da poluição atmosférica, de acordo com um estudo da revista Nature Climate Change. A diminuição da emissão de gases com efeito de estufa, entre 10% e 30% entre fevereiro e agosto de 2020, é “pouco significativa” na reversão das alterações climáticas, mas revela que a adoção de políticas ambientais na recuperação económica dos países poderá ser uma solução no combate ao aquecimento global. Para os oradores, a fórmula para resolver esta crise estará, efetivamente, no diálogo entre economia e sustentabilidade.
Em primeiro lugar, para Francisco Guerreiro, é necessário “regenerar os ecossistemas, assegurar a transição energética e rever o financiamento de indústrias poluentes”. A este propósito, surge o tema do novo aeroporto no Montijo e o modo como o discurso político de preocupação ambiental não se traduz em aplicações práticas. Francisco Ferreira completa a ideia do eurodeputado e discorre sobre os impactos do turismo no meio ambiente.
“Quando chega a hora da verdade, os políticos falham”, refere Francisco Ferreira. “Precisamos de compatibilizar o turismo com a realidade climática.”
Além disso, o professor faz referência ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e afirma que esta seria uma oportunidade para fazer a diferença em setores como a mobilidade e a floresta. No entanto, tal não aconteceu e o mesmo passou a ser uma “mera extensão do financiamento europeu normal”, acrescentou o presidente da ZERO.
Seguidamente, Francisco Ferreira afirma que, por um lado, os custos ambientais devem ser internalizados e que é necessário “perceber quais os aspetos criadores de emprego e vitais em termos de ação”. Por outro lado, defende a adoção de um novo paradigma económico que coloque de parte a superprodução. Já Francisco Guerreiro dá seguimento a este pensamento e refere que urge criar bens com maior durabilidade, como os telemóveis sustentáveis – fairphones -, e que “o PIB não deve estar no centro da economia”.
“Nós vamos ser os responsáveis pela nossa própria destruição”, lamenta Francisco Guerreiro.
No final, houve tempo para pensar no papel das gerações mais jovens. Será que estão a cumprir o seu dever como futuros líderes?
Francisco Ferreira acredita que sim, mas afirma que devia haver mais jovens a “ir mais longe”. Dá o exemplo da Greve Climática Estudantil (GCE) e refere que a “emergência climática obriga a que todas as gerações desempenhem um papel já”. O eurodeputado, por sua vez, apela à audácia e à ação com base em evidências científicas e refere que este processo de transição deve ser “divertido”.
Se queres saber mais sobre políticas ambientais e a resposta à crise climática, vê aqui a versão completa da oitava Political Talks: