Afinal, o que é a rede 5G? Que revolução é que esta tecnologia promete? E porque é que é motivo de discussão entre Estados Unidos e China? Na terça-feira, 17 de novembro, transmitimos em direto a nossa primeira Political Talks, sobre a rede 5G. Rui Luís Aguiar e Germano Almeida foram os convidados para falarem um pouco sobre as questões tecnológicas e geopolíticas que envolvem esta nova etapa das telecomunicações.
Especialista em tecnologia 5G, Rui Luís Aguiar falou de uma realidade industrial americana que “não está preparada para o desenvolvimento e implementação” desta tecnologia. Segundo o ex-conselheiro da Secretaria de Estado das Comunicações, os pioneiros neste tipo de tecnologia são empresas como a Huawei, a Nokia e a Ericsson.
No entanto, o professor da Universidade de Aveiro não deixa de salientar que a rede 5G funciona como uma versão “4G em esteroides”. Segundo Rui Luís Aguiar, os grandes benefícios falados sobre a nova tecnologia, nomeadamente a latência – tempo que um dispositivo leva a comunicar com a rede e a obter resposta -, apenas virá a ser realidade num período de três a cinco anos.
O 5G no mapa geopolítico
As acusações dos Estados Unidos ao uso desta tecnologia para espionagem, por parte da China, são infundadas para Rui Luís Aguiar. O especialista em 5G defende não haver provas concretas para esse fenómeno e que os estudos iniciais realizados, por exemplo no Reino Unido, não encontraram quaisquer evidências de espionagem em equipamentos da Huawei.
Já Germano Almeida concorda com a análise feita. O comentador de política norte-americana da SIC afirma que existe uma guerra comercial – não excluindo uma rivalidade tecnológica – se sobrepõe e é motivada pelo facto dos Estados Unidos não serem líderes, nem concorrentes no uso de tecnologias 5G. Nesse sentido, acrescenta, ainda, que a administração americana formulou o plano “Rede Limpa”, assinado com países da Europa de Leste, com vista a bloquear o uso de tecnologia Huawei.
O analista político refere ainda a entrevista providenciada por George Glass à SIC Notícias. O embaixador norte-americano em Portugal lançou uma “ameaça não-tão-velada” aos líderes portugueses, avisando que teriam de escolher entre Estados Unidos e China, no que toca não só ao 5G, mas também ao posicionamento no lado “correto” deste confronto tecnológico. Germano Almeida fala também da dificuldade que Portugal teria em alinhar-se exclusivamente a uma destas potências, apontando as ligações diplomáticas e históricas entre os países: de um lado, a aliança na NATO, do outro lado, o impacto chinês no tecido empresarial português.
E com Joe Biden na liderança?
A derrota de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas poderá aliviar as tensões entre Estados Unidos e China, nomeadamente quanto ao 5G, segundo Germano Almeida. Já Rui Luís Aguiar concorda que com Joe Biden, a abordagem dos Estados Unidos não será tão agressiva, embora o presidente-eleito tenha prometido ser “duro” com Pequim. A nova administração irá ser “temperar a retórica, certamente, mas manter a China como a maior ameaça à segurança nacional americana”, diz o especialista.
Embora não haja quaisquer indícios de espionagem, Germano Almeida salienta a importância da Huawei no plano de Xi Jinping – chamado “Belt and Road Initiative” -, cujas intenções fundamentais são “a expansão do poder e influência da ‘mãe China’ como potência número um do mundo”.
Na Europa, a aposta no 5G será a mais acertada
Ambos os especialistas concordam que o melhor interesse da Europa passará pela opção de escolha, num mercado competitivo em que todos os pioneiros do 5G possam coexistir e cooperar. Nesse sentido, ambos os convidados frisaram a importância da Europa no papel de “moderadora e protetora dos interesses dos seus cidadãos”. Germano Almeida dá exemplos como os processos em tribunal contra empresas como o Facebook e a Alphabet (Empresa-mãe da Google), no sentido da proteção das liberdades individuais dos cidadãos europeus. Segundo o comentador da SIC, o direito à privacidade não conhece “qualquer respeito e consideração por parte da China” e “dificilmente será uma prioridade para as sucessivas administrações americanas”.
Para saberes mais sobre as perspetivas da tecnologia 5G, o “Caso TikTok” ou mesmo o futuro do Facebook na Europa, vê aqui a versão completa do primeiro Political Talk: